É tempo de extremos no clima. E de medo. Ora da seca aguda, ora da chuva catastrófica. Nesta semana, o pavor de novas tragédias em decorrência de tempestades voltou a rondar a Serra e outros municípios capixabas.
Na Serra, entre 2015 e 2016, a seca chegou a deixar a cidade sem água até durante o rodízio. Incêndios na turfa pioraram a já castigada saúde respiratória de uma população exposta há décadas ao pó preto da Vale e agregadas. Em 2014, no dia 30 de outubro, uma superchuva gerou colapso na cidade. Em dezembro de 2013 também.
É ignorância atribuir desastres climáticos somente à natureza. A mão humana tem parcela importante nessa conta. Primeiro – mas não necessariamente nesta ordem –, pelas mudanças climáticas globais provocadas pelas atividades humanas.
Segundo, pela forma como cresceram as cidades atuais, onde a ganância imobiliária ‘empurrou’ ocupações para beiras de rios e várzeas sujeitas a inundações, ou para encostas que, cedo ou tarde, deslizarão.
Cidades que também pavimentaram solos com asfalto e concreto. Agora, poucas horas de chuva forte vira torrente devastadora a carregar pontes, casas e carros como se estes fossem de brinquedo. Nas áreas rurais, florestas, cerrados e campos deram lugar a pastos e/ou monoculturas que pouco retêm água de temporais.
Trágico o que aconteceu na última sexta-feira (17) em Iconha, Rio Novo, Vargem Alta e Alfredo Chaves. Que essas cidades possam se reerguer. Mas se reconstruírem os pontos mais afetados no mesmo lugar, pode ser questão de tempo uma nova devastação.
É uma lição que vale para a Serra, para outras cidades do país e do mundo: o planeta está mais hostil e boa parte da culpa é humana. Urge repensar não só os assentamentos de pessoas, mas a lógica econômica. E isso passa pela revisão do padrão de consumo, que só deve avançar para quem não tem o básico. Para uma presença humana mais harmônica com a Terra, tecnologias já existem e devem seguir evoluindo. A dúvida é se serão criadas condições políticas para tal.