Meio Ambiente

Serra gasta R$ 120 milhões/ano com lixo e entulho e tem reciclagem “insignificante”

Trator de empresa contratada pela Prefeitura retira resíduos de ponto viciado de entulho e poda em bairro da Serra: mistura de vários tipos de resíduos inviabiliza reciclagem e aumenta custo. Foto: Divulgação

Neste segundo bloco da entrevista (confira o 1º bloco aqui) concedida no último dia 07 pelo secretário municipal de Serviços, Ênio Bergoli, o gestor traça o cenário atual da coleta e destinação dos resíduos sólidos da cidade. E revela que o município tem planos para ter coleta seletiva e reciclagem em volumes e percentuais maiores, incluindo aí propostas de nova modelagem na gestão do serviço com uma eventual Parceria Público Privada (PPP) do Lixo.   

Quanto de lixo doméstico, entulho e material de poda é recolhido na cidade? E qual o custo disso?

Nós temos três grandes tipos de resíduos. O lixo doméstico, o resíduo da saúde (lixo hospitalar) e o entulho da construção civil /resto de poda. Aí fizemos um comparativo dos últimos três anos, de janeiro a março. De janeiro a março de 2019 foram recolhidos 56,8 mil toneladas. De janeiro a março de 2020, foram 62, 8 mil toneladas. Este ano (2021) 79,8 mil toneladas. Ou seja, 27% a mais nós recolhemos em um ano.

Dos R$ 190 milhões do orçamento anual da Sese, mais ou menos R$ 110 a R$ 120 milhões é coleta e destino de resíduos. Esse é o ponto. Depois tem uma partezinha (do orçamento) de serviços e outra de iluminação pública.  Então nós aplicamos aqui em coleta e destino de resíduos cerca de R$ 10 milhões por mês.

Estamos com a economia em crise por conta da pandemia, o que em tese deveria desdobrar em menor geração de resíduos. O que explica esse aumento tão expressivo do volume coletado entre 2020 e 2021?

Pegamos a cidade, digamos assim, limpa em vias principais. Aí por uma determinação do prefeito nós passamos a entrar mais internamente nos bairros. E aí nós encontramos muito entulho e lixo.

Então a explicação do aumento foi uma maior mobilização de limpeza no início dessa gestão em pontos viciados e irregulares de descarte de resíduos ….

Isso. Tanto que o aumento do volume foi diferente em relação ao tipo de resíduo. O lixo doméstico foram 36,9 mil toneladas no 1º trimestre de 2020 e de janeiro a março de 2021 foram 37,4 mil toneladas. Aumentamos só 1,5%. É a lógica, que é basicamente o aumento proporcional da população. Que é aquele que é recolhido no porta a porta que a pessoa bota. Eu vou te falar a justificativa técnico e científica do nosso programa Serra Cidade Limpa e Saudável. De entulho e resto de poda, de janeiro a março de 2020 foram recolhidos 25,7 mil toneladas. Este ano, no 1º trimestre, foram 42 mil toneladas. Este é o grande salto que a cidade precisava para ficar limpa e saudável.

Outro aumento expressivo é o do resíduo da Saúde, mas não interfere tanto na quantidade do total de resíduos que coletamos, pois o volume é pequeno em relação aos outros. Dos resíduos da saúde foram 204 toneladas de janeiro a março de 2020, quando praticamente não tinha pandemia. Este ano saltou para 285,5 toneladas no trimestre, ou seja, aumentamos em 40% o lixo hospitalar.

Ex- secretário de Agricultura do ES, ex-diretor do Incaper e do DER, Ênio Bergoli assumiu a Sese em janeiro e iniciou a gestão com programa que removeu lixo e entulho de pontos viciados em áreas periféricas. Foto: Divulgação/Prefeitura da Serra

Quanto do lixo doméstico recolhido pela prefeitura é feito através de coleta seletiva e encaminhado para reciclagem?

O volume ainda é insignificante. Mas estamos priorizando muito essa questão mais contemporânea de coleta seletiva. Já estamos com 111 pontos. E obviamente à medida que avançarmos em educação alimentar nós pretendemos ampliar ainda mais para que esse lixo seja um resíduo que possa ser reciclado. Esse é um problema que não é só da Serra, mas dos mais de 5,5 mil municípios do Brasil.

E do entulho e material de poda, há estimativa do quanto é reaproveitado?

Para cada tonelada desse entulho misturado a outros resíduos a gente paga mais de R$ 70 para destinar. Se tivesse o resíduo puro da construção civil, entulho sem misturar com outros materiais, já cai para pouco mais de R$ 20. São coisas que vamos evoluir. É uma questão de educação sanitária.

Não adianta eu colocar uma área de transbordo e a pessoa não levar. É claro que precisamos melhorar também a fiscalização. Também precisamos das lideranças, especialmente os presidentes de bairros. Mas não é uma agenda em que vamos estalar os dedos e vai mudar. Tem uma parte cultural, histórica. Temos que trabalhar todos os dias para dar passos adiante nessa agenda. Essa é uma agenda que ao mesmo tempo me incomoda e me desafia.

Nota da redação: Assim como o lixo doméstico e o hospitalar, esse entulho ‘sujo’ é descartado no aterro sanitário da Marca Ambiental em Cariacica, empresa que tem contrato com a Prefeitura da Serra. Já a empresa que faz a coleta não só do entulho mas também do lixo doméstico e hospitalar, também através de contrato com a Prefeitura, é a Corpus Engenharia.

Na última gestão do ex-Prefeito Audifax Barcelos chegou a ser apresentada proposta de uma Parceria Público Privada na área de coleta de resíduos, a chamada PPP do Lixo. Mas não decolou. A atual gestão Vidigal pode levar à frente  propostas nesse rumo?  

Pode. Já estamos estudando e tem uma área específica da prefeitura para tal. Hoje esse custo que a gente tem de coleta e destino de resíduos é elevadíssimo. São cerca de R$ 10 milhões por mês. E não vira vantagem. Nós trabalhamos na manutenção e limpeza da cidade, mas imaginando uma modelagem mais nobre. O lixo pode gerar energia. Com uma coleta mais adequada, o resíduo de entulho – e já tem uma empresa instalada privada aqui próximo de nós na BR 101 (Contorno de Vitória) já fazendo a reciclagem – vira material para construção civil.

Neste momento estamos cuidando da cidade e estudando mecanismos e modelagens para ter mais eficiência no gasto público, reduzir os danos ao meio ambiente, ter o maior economicidade e pensando no futuro. Quando menos nós investirmos nesta parte dos resíduos é porque nos vamos ter uma população de certa forma com maior educação sanitária – é o desafio do Brasil inteiro – ter modelagens mais contemporâneas de contratação. Aí vão sobrar recursos para outras áreas mais estruturantes.

Ao invés de aplicar R$ 190 milhões na Secretaria de Serviços como um todo ou R$ 120 milhões com os resíduos, baixar isso para R$ 50, R$ 60 milhões, vai sobrar dinheiro para investir na educação, que é realmente o que muda uma sociedade para melhor. Investimento em outras áreas que vão melhorar o meio ambiente, gerar emprego, renda, ter um impacto muito positivo na qualidade de vida.

Nessas modelagens que estão sendo estudadas, já há pistas do quanto a cidade deseja que seja coletado seletivamente e encaminhado para a reciclagem do total de lixo e outros resíduos que gera? 

Infelizmente a nossa coleta seletiva hoje – e isso não é só a Serra, é o Brasil como um todo – é insignificante. Mais de 80% dos 111 pontos de coleta seletiva que temos estão nas escolas, que são ambientes que favorecem que as pessoas conseguem separar direitinho, plástico, metal. E nós temos muito poucos em prédios públicos e alguns pontos nas ruas. E quando a gente coloca e tem lá o coletor diferenciado, com explicação, as pessoas vão lá e colocam o lixo úmido. A gente acaba nem aproveitando o material recolhido nesses pontos. Por isso temos que avançar muito. Por isso estamos criando uma área dentro do departamento de limpeza pública específica e reforçada de educação sanitária. Inclusive estamos agora trabalhando numa campanha nesse sentido. E não só para a coleta seletiva mas também para que as pessoas saibam dar o destino correto a seu resíduo sólido.

Ontem (06 de abril), na minha rede social, fiz um vídeo e as reações me chamaram muita atenção. Nós temos aqui na Serra áreas de transbordo para entulhos da construção civil e galhos. Temos uma área em Nova Carapina II, uma em Porto Canoa, uma em Barcelona e uma Jardim Carapina. Eu fui visitar a área de Jardim Carapina porque nos vamos fazer melhoria lá. Aí conversando com as lideranças de lá, estamos estudando outras áreas em outras regiões para que as pessoas possam pegar esse resíduo que é privado, que cabe a ela dar destino, da sua construção, da poda de árvore em seu terreno, para que possa levar e colocar. A menos de 30 metros tinha entulho da rua. Aí você vê o enorme desafio.

A reforma administrativa anunciada pelo prefeito mudará o escopo das atividades geridas pela Sese? 

Basicamente não muda muito. Tem algumas estruturas de organograma que é para melhorar, digamos assim, a fiscalização e gerenciamento. Com essa experiência que eu tenho em gestão alguma questão de estrutura algumas áreas para que a gente possa organizar melhor esse volume grande de contratos, ou seja, com estrutura melhor de trabalho e controle. Confiar é bom, conferir sempre é melhor. Então nós estamos fazendo muito mais com a mesma quantidade de recursos. Então a estrutura não altera significativamente. O que vem para a Sese, que independente da votação na Câmara, já estamos fazendo? As patrulhas rurais, fazendo manutenção e conservação das estradas vicinais. Isso não tem nada a ver com a estrutura programática da Secretaria de Agricultura, Aquicultura e Pesca, que vai para o setor de Desenvolvimento.   

Redação Jornal Tempo Novo

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