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“Se eu ainda estivesse trabalhando com cartoons hoje estaria preso ou até morto”

O artista Ique ao lado da estátua do rei Pelé, uma de suas criações que está exposta no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação.

O consagrado cartunista Víctor Henrique Woitschach, mais conhecido como Ique, visitou a fábrica de bebidas Uai, em Feu Rosa, a convite do empresário Betinho Sartório. Nesta entrevista, Ique conta sua trajetória e fala sobre a situação do país.  Eci Scardini

Como foi o início da sua carreira e há quanto tempo atua no cartunismo?

Tenho 53 anos e comecei na profissão aos 15.   Sou de Campo Grande, Mato Grosso. Com 20 anos fui para o Rio e, chegando, fui para o Jornal do Brasil, veículo difícil de entrar, ainda mais para um jovem. Mas, por conta do meu trabalho, consegui e com menos de cinco anos de casa ganhei dois prêmios de jornalismo. Fiz dois livros de charges e a minha vida como cartunista passou toda dentro do jornal do Brasil até a última edição de papel.

De onde veio a vocação para fazer cartoon?
Meu pai desenhava muito. Mas além dele não tem ninguém da família que tenha se interessado pelo mundo das artes. Mas não tem nenhuma explicação lógica por que eu virei artista. A minha mãe dizia eu não gostava de trabalhar, e eu tentava ganhar dinheiro desenhando sendo o cartunista que me tornei, por que na minha vida nunca pensei em outra coisa que não fosse desenhar.
Você tem uma história muito grande com o Jornal do Brasil, que infelizmente deixou de circular na versão impressa…

O Jornal do Brasil foi minha casa durante quase 30 anos. Ganhei todos os prêmios que pude lá, enfrentei vários momentos do nosso país, sem tomar partido para lado nenhum justamente, levando em consideração que eu tinha um público a respeitar, um nome a zelar e não podia faltar com as pessoas. E o jornalismo tem de ser imparcial. Eu como chargista também sou jornalista e fiz isso como minha meta.
Você começou no finalzinho do regime militar. Os seus desenhos chegaram coloca-lo em situações de perigo?

Perseguido a gente é sempre. A ditadura política havia acabado quando eu comecei. Mas foi trocada pela ditadura econômica, você tem empresas fortes que acabam botando dinheiro em jornais para pressionar. Mas a política sempre tentou pressionar os jornais. E eu nunca permiti que isso acontecesse, e no Jornal do Brasil isso não acontecia. Por várias vezes os políticos ligavam para o jornal para me demitir.

Dentre os personagens políticos do período você tinha a preferencia por desenhar algum?

A política é muito rica em todos os sentidos. Rica por que mete a mão no bolso de todo mundo. E rica para o cartunista, porque dá pauta. Eu sempre tive um lema, se eu não tiver assunto, o presidente era meu assunto. Por que ele sabe de tudo abaixo dele.
O que aconteceu com o Jornal do Brasil?
O que aconteceu é o que acontece com todas as empresas grandes como as extintas Varig, Panam, com a Mesbla. Chega um determinado momento que a gestão tem de ser renovada, ela tem de se modernizar. Isso não aconteceu com o JB, que entrou numa ciranda financeira negativa que o levou a praticamente à falência. O jornalismo perdeu muito com isso.

Fora do Jornal do Brasil, o que você foi fazer?

Eu virei escultor, eu sempre fui. Virei roteirista da TV Globo, escrevi o Zorra Total por 9 anos, me tornei dono de uma empresa de publicidade. Tenho feito coisas para o cinema. E agora estou com o projeto de montar uma cervejaria com meu nome.

Quais são os humoristas da Rede Globo que você julga que estão mais no imaginário da população?

O Paulo Silvino é o meu predileto, fiz desenhos dele por muito tempo no Zorra. Ele é um humorista de raiz e que representa muito bem essa classe tão desvalorizada.

Como foi construir a charge do Messi que a TV Globo exibiu na Copa de 2014?

Criei aquele animatronic (espécie de robô usado nos filmes de holywood) em meu ateliê. Foi minha charge animada, mecanizada. Era uma antiga vontade dar vida a uma caricatura.
Você está deixando herdeiro? Alguém da sua família está seguindo seu trabalho?

Todos desenham muito bem, minha caçulinha, que tem quatro anos, é uma fanática por desenhos, acho que é a que gosta mais. Mas se Deus quiser ninguém vai seguir essa carreira, que é difícil. Tomara que eles levem a vida para outro lado.

Como você vê a atual situação do país? Se ainda estivesse fazendo cartoons, como retrataria? 

Nem sei se estaria fazendo. Pela falta de vergonha na cara, e tanta cara de pau, a Justiça acabou sendo desmoralizada por essa política vagabunda que temos no país. Isso em um país sério não estaria acontecendo. Se eu ainda estivesse trabalhando com cartoons hoje estaria preso ou até morto. Eu me envergonho muito da classe política, que conseguiu até desmoralizar o jornalismo e o cartunismo.

O que você destacaria no cartunismo e nas charges atualmente?

Hoje você não tem um cartunista de peso com trabalho forte. Apesar de que a classe política parece não se incomodar mais com nada. Antigamente os políticos sentiam mais as charges, mexiam muito com os brios deles. Hoje eles não sabem nem o que é uma grande merda, por que é o que eles fazem sempre. Então nem sei se seria chargista, por que estou muito desgostoso.

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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