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Poeta escreve contos baseados na vida, no amor e na morte

Jean Nay tem 39 anos e possui mais de 300 contos e poesias. Foto: Arquivo TN

De Jardim Limoeiro, o escritor Jean Nay Araújo Faria se inspira em grandes nomes da literatura brasileira para escrever suas poesias e contos.

O poeta serrano possui cem contos escritos e 300 poesias. A inspiração vem de temas fundamentais da vida como o amor e a morte. Ele tem 39 anos e conta que sua vontade de escrever surgiu quando ainda era pequeno.

O primeiro livro de Jean já está saindo do forno. Deve ser lançado ainda este ano com recursos próprios. O título é Entropia contará com cinquenta poesias. Jean também possui dois blogspots: lojadaentropia.blogspot.com.br e muitoalemdagramatica.blogspot.com.br.

Confira um dos contos de Jean:

A MALA

Wander acordou com um gosto de sal na boca. A manhã já se perfazia translúcida pela janela. Ele levantou-se e enquanto Alice dormia se dirigiu para a cozinha para preparar o café. Pensava na faculdade e no trabalho: Que sonho estranho. Fez o café e se sentou para comer. ILUMINAI VOSSAS CONSCIÊNCIAS. Esse pensamento não sai da minha cabeça. Bebeu o café, colocou a blusa e a calça e desceu as escadas. Saiu pela porta do prédio e olhou em volta. Havia geado na noite anterior e tudo se cobriu de um branco pastoso. Neve em Vitória?

Resolveu buscar um casaco e se encaminhou para a porta do edifício. Apertou o interfone e ouviu a voz de Alice. O que é? Abre pra mim ai amor, que eu esqueci a chave. A porta abriu e ele subiu as escadas pensando em não perturbar muito a namorada que sempre acordava grumpy.

Ela abriu a porta e lhe estendeu o casaco. Por baixo do braço dela ele observou e viu o jornal jazendo no criado mudo da sala. Já viu o jornal hoje? Eu pego pra você. Não vali eu tô com muita pressa leio depois. Beijaram-se e ele desceu. Encaminhou-se para o ponto de ônibus e pensou na faculdade e no trabalho. O ônibus chegou. Ele subiu e sentou na frente. Pensava em quanto ele não conseguia socializar com as pessoas e em quanto o seu trabalho era escravo. Nisso notou um senhor esquisito sentado do outro lado. Usava uma gravata borboleta e carregava uma maleta no colo.

Wander se lembraria daquela maleta porque não era cinza, nem marrom, nem preta. O ônibus chegou ao terminal do metrô. Desceram. Wander se senta na plataforma para esperar o trem e o senhor esquisito se senta ao lado dele.

De repente Wander se distrai com uma mulher que passava e quando olha para o lado o senhor havia partido. Ele olha o senhor entrar no trem e vê que a maleta estava lá inerte esperando que alguém a pegasse. Wander pega a maleta. Vou abrir para ver se tem o endereço dele um cartão alguma coisa que possa levá-lo até o homem estranho. Queria devolver a mala. Coloca-a de lado e espera.

De repente saiu uma multidão do trem e passa por Wander, se esbarrando, sussurrando e andando com pressa. Na confusão Wander se perdeu da maleta, e quando quis alcançá-la, ela já não estava + lá. Declinou, saiu e entrou no trem. Já ia andando havia uma meia hora, quando começou a observar as malas das pessoas em volta. Pareciam todas iguais e a ânsia de devolver a mala, de ver o que tinha dentro foi crescendo até sufocá-lo. Desceu na estação de Cariacica e andando alguns passos, chegou perto do banco. Olhou e não acreditou no que viu. Uma maleta, sozinha, esperando que alguém a pegasse. Esticou a mão para pegá-la e de repente Droga. Essa incontinência urinária.

Foi correndo ao banheiro e quando voltou à mala já não estava lá. Olhou ao redor e viu o homem estranho de costas, com a mala na mão entrando em outro vagão. Correu para alcançá-lo + já era tarde. Entrou então no seu para Vila Velha e se sentou de lado para dar espaço para uma mulher gorda. Apertou o bagulho no bolso e pensou: Que bom, tem pra depois da facul. Olhava as malas de todos os que pareciam carregar maletas e parecia que elas falavam com ele, esperando serem pegas. Avançavam no seu rosto, passavam pala sua mão.

Que haveria dentro delas? Cartões, dinheiro, joias, drogas, pedaços de seres humanos esquartejados? A mulher gorda saiu e o banco ficou vazio. Dez minutos depois, quando Wander divagava, o senhor esquisito se senta ao seu lado com a mala nas coxas. Que estranho! Cinco minutos depois Wander olha pela janela e olha de novo para o lado. O homem havia sumido. Até parece perseguição! Quando esticou os dedos para pegar o objeto, outras mãos avançaram e agarraram a maleta. Era um homem escuro, de cavanhaque e cabelos brancos.

Os dois se entreolham, havia medo em seus olhos. Um puxa daqui, outro puxa dali. Dá-me a mala! É minha! Quando o homem se distrai Wander o golpeia e sai correndo com a mala debaixo do braço. A porta abre e ele pula para a estação de Vitória, corre um pouco, mas escorrega e cai. O homem escuro perto e com desdém fala: Vou comer seu fígado! Alguns policiais se aproximam. O homem tira uma carteira do bolso e a apresenta. Sou delegado, esse maconheiro de merda pegou a minha maleta. Podem levar. Os guardas põem Wander no camburão e se encaminham para a delegacia. Lá, ele é fixado e levado para a cela. Chegando lá, ele começa a pensar na sua falta de sorte. + tarde, quando já era noite, alguém passa pela cela distribuindo revistas e jornais. Quando Wander ia pegar um jornal, alguém o alcança e o toma dele.

Ele se conforma. Não consegue ler o jornal. Depois + tarde, os presos vão para o pátio assistir TV. O preso que pegou o jornal, o coloca debaixo do braço e fala: Vem assistir ao noticiário? Wander declina e fica sozinho na cela. Tarde da noite, Wander dormitava lendo uma revista sobre equinos. Os outros presos chegam e falam sobre o que viram na TV. Cara, que foi aquilo… E blá blá blá… Wander já dormia. Sonhou profundamente. ILUMINAI VOSSAS CONSCIÊNCIAS! Se viu numa floresta, bem escura, de pinhos e roseiras. Era um centauro e corria solto pela floresta. Chegou então à uma clareira e seguiu o curso do rio. Chegou numa cachoeira. O centauro se joga e afunda lá embaixo na água turbulenta. Saiu do outro lado e continuou cavalgando até chegar em um campo de trigo. Lá ele antevê duas crianças loiras que correm pelo campo. Ele as segue e elas vão correndo até chegar a uma praia. Ele se encaminha para as crianças que entram em uma casa com as paredes partidas.

O vento move seus cabelos. Quando Wander ia alcançá-las ele é acordado. Cara levanta sua esposa está aí para buscá-lo. Pagou sua fiança. Não somos casados. Olha para fora da cela e Alice ria. Como você descobriu que eu estava preso? Você não sabe? Está em todos os noticiários. Vamos para casa depois eu te conto. Chegaram ao apartamento. À noite no jantar, Wander tenta se explicar para Alice. Fala do homem estranho, das malas, da briga com o delegado e de como foi preso. Ela pára, olha para ele e diz: Quer saber o que realmente aconteceu?

Leia o jornal! Ela joga o montulho de papel sobre a mesa. Ele estava lá, parado, olhando para Wander. Suas mãos crescem, o jornal diminui, ele avança para pegá-lo com um nó na garganta, suando e quando ia alcançá-lo, Alice o toma em suas mãos pequenas e corre pela sala rindo alto. Wander corre atrás dela e eles lutam de brincadeirinha. Ele joga o jornal no canto da sala e eles rolam na cama brincando. Ficam assim até o amanhecer. Nevava. O jornal jazia lá, parado, esperando para revelar a Wander o final trágico do seu caso. ILUMINAI VOSSAS CONSCIÊNCIAS!

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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