O pó preto aumentou na região de Laranjeiras e noutros pontos monitorados pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) na Grande Vitória. É o que revela o relatório do Iema sobre a quantidade de poeira sedimentável em janeiro, poluente que em grande medida é formada por partículas de carvão e minério de ferro emitidas no complexo de Tubarão (Vale e ArcelorMittal).
Na Serra, a estação de monitoramento no Hospital Dório Silva, em Laranjeiras, registrou 6,6 gramas por metro quadrado (g/m2) de pó acumulado. O número é 10% maior do que o registrado em janeiro de 2018, quando foram registrados 6,0 g/m2. Situação que agrava problemas respiratórios de quem vive na região.
A moradora de Jardim Limoeiro Rosimar Silva diz que a filha Alice, de 4 anos, tem asma, usa bombinha e precisa nebulizar com frequência. “Tenho que limpar a casa todo dia. Na semana passada, minha filha teve crise e precisou de atendimento no hospital. Em dezembro, pelo mesmo problema, ela ficou internada por uma semana”, conta.
Quem pode, muda. É o caso de Bianca Carla Paredes, que há um mês saiu de Morada de Laranjeiras para Praia Grande, em Fundão, por conta da rinite e asma de seu filho mais velho. “Em Praia Grande tem menos pó e percebi que as crises do meu filho acabaram”, frisa.
Entre janeiro do ano passado e deste ano, houve também aumento do pó nas estações da Ilha do Boi, em Vitória (de 6,0g/m2 para 7,8g/m2), e de Vila Capixaba, em Cariacica (de 7,4g/m2 para 9,4g/m2). Mesmo com o aumento, os números estão abaixo do limite estadual, que é de 14g/m2.
Vale e ArcelorMittal Tubarão se posicionaram a respeito das situações abordadas na reportagem. Confira a íntegra das respostas das empresas:
ArcelorMittal Tubarão
A ArcelorMittal Tubarão afirma que tem feito robustos e contínuos investimentos em ações de controle ambiental desde que entrou em operação e ainda mais sistematicamente nos últimos anos. Em 2018, a empresa assumiu um compromisso público com as autoridades ambientais e os Ministérios Públicos em projetos da ordem de mais de R$ 1 bilhão, em ações de curto, médio e longo prazos, os quais vem cumprido e inclusive antecipando o prazo de alguns investimentos, como por exemplo, os sistemas de lava-rodas de veículos com cargas e a cobertura de caminhões.
Em regiões como Carapina, a Rede de Monitoramento Manual do Iema apontou para uma redução de 69,6% no verão de 2019, conforme dados disponíveis, em relação ao mesmo período de 2015. Mesmo durante o verão, estação historicamente marcada por maior incidência de ventos e alta insolação, os índices de concentração de partículas sedimentáveis têm se mantido muito abaixo dos patamares recomendados pela legislação.
Cabe destacar que, também conforme atestou o Iema, a Grande Vitória tem grande pluralidade de fontes de emissões de material particulado. São setores como o de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo), atividades da construção civil (incluindo terraplanagem), queimadas, com aerossóis marinhos, solos e industrial. Cada um com sua parcela de contribuição e responsabilidade, por isso, a ArcelorMittal Tubarão entende que a Região Metropolitana da Grande Vitória demanda, com urgência, de estudos – desenvolvidos e ajustados à sua realidade – que identifiquem com maior clareza e transparência a coparticipação de cada um desses agentes. Com relação a queimadas, reforçamos que no período de fevereiro e março foi observado um aumento significativo de queimas que contribuem para a deposição de particulado na região da Grande Vitória.
Para maior transparência das ações que desenvolve, a ArcelorMittal Tubarão mantém seu website atualizado com os resultados do monitoramento contínuo de suas chaminés. A divulgação é feita mensalmente e permite ao capixaba acompanhar o cumprimento legal de todos os dados reportados ao IEMA. Todas essas informações estão disponíveis para consulta também no site http://tubarao.arcelormittal.com.
Vale
A Vale tem investido continuamente para aprimorar seus controles ambientais e reduzir cada vez mais suas emissões, conforme compromisso assumido com a sociedade e com os órgãos ambientais. Além disso, a empresa já iniciou a implantação do plano de investimentos, que visa a reduzir ao máximo as emissões gradativamente até 2023.
Entre os destaques das ações de controle está a aplicação de produto à base de celulose inédito no Brasil nas pilhas de minério e carvão, que já está sendo realizado. Outras obras estão em andamento como a instalação de canhões de névoa no pátio de pelotas, o fechamento inferior do píer de carvão e o enclausuramento da baia de insumos da Usina 8. Nos próximos 5 anos, estão previstas diversas ações, como a instalação de quatro novas barreiras de vento (wind fences) e o fechamento e/ou adequação de 40 km de correias transportadoras.