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Paralisação da Vale em Itabira-MG impacta economia da Serra e ES

Instalações da gigante Vale no Complexo de Tubarão localizado parte em Vitória, parte na Serra. Foto: Divulgação/Vale

Em plena pandemia, a economia da Serra e do Espírito Santo acaba de levar mais um baque. É que um dos polos de produção de minério de ferro da Vale em Minas Gerais, localizado na cidade de Itabira, foi paralisado no último dia 05 de junho. É deste local que vem parte do minério que abastece o Complexo Industrial de Tubarão, cuja área abrange porções dos territórios de Vitória e Serra, além de ativar toda uma rede local de empresas fornecedoras e prestadoras de serviço.

A paralisação da mineração da Vale em Itabirito foi determinada pela Justiça após disseminação da covid-19 entre funcionários da empresa e moradores do município mineiro. Na prática, menos minério ficou disponível para a pelotização nas oito usinas da Vale no ES e para a exportação no porto de Tubarão. O minério chega às terras capixabas de trem pela ferrovia Vitória-Minas, de propriedade da União, mas operada pela Vale, que tem a concessão da via.

Outra empresa gigante que opera no complexo siderúrgico entre Serra e Vitória, a ArcelorMittal Tubarão, também pode ser diretamente impactada. Isto porque a siderúrgica depende minério de ferro transformado em pelotas nas usinas da Vale em Tubarão para produzir aço. Parte da produção de aço também é exportada por outro porto do complexo, o de Praia Mole.

A reportagem procurou Vale e ArcelorMittal Tubarão para saber como a paralisação das minas de Itabira impactam as atividades das duas empresas no ES. Dentre as perguntas, se isto pode gerar demissões, rompimento ou redução de contratos com terceirizadas e prestadoras de serviço.

A Vale admitiu que pode faltar minério fino (pellet feed) para o Complexo de Tubarão. Em abril a empresa já havia reduzido sua previsão de produção global de minério de ferro de 340 a 355 milhões de toneladas para 310 a 330 milhões de toneladas este ano. Falou ainda que vem adotando medidas de controle da pandemia orientadas pela OMS(Organização Mundial de Saúde) entre funcionários próprios e terceirizados em suas instalações. Mas não comentou sobre possibilidade de demissões e rompimento de contratos. Veja, ao final da matéria, a íntegra da nota enviada à reportagem.

Já a ArcelorMittal Tubarão apenas explicou como está sua produção atual e quais cuidados tem adotado na planta instalada na Serra para conter a disseminação do novo coronavírus entre seus funcionários (veja ao final da matéria).

Setor em dificuldade desde 2015

A paralisação da produção em Itabira em função da contaminação de funcionários da Vale e de moradores da cidade do chamado Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais se soma a outros problemas enfrentados pelo setor mínero siderúrgico nos últimos anos na região. O primeiro deles foi a paralisação da Samarco, joint venture  entre a brasileira Vale e anglo australiana BHP Billiton em função do rompimento da barragem de rejeitos da mineração da empresa em Mariana, MG, em 05 de novembro de 2015.

A Samarco, cujas três usinas de pelotização e porto de Ubu se localizam em Anchieta, sul do ES, segue parada. Mesmo estando a cerca de 100 km da Serra, a empresa movimentava negócios na cidade. Levantamento feito por Tempo Novo em 2016 junto à Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) estimou em R$ 300 milhões por ano a perde de negócios de empresas da Serra que forneciam itens ou prestavam serviço à Samarco. Cerca de 350 empregos foram perdidos no município em função dessa paralização, apontou a Findes.

Outro baque enorme do arranjo mínero sirderúrgico no ES foi o rompimento da barragem de rejeitos da mineração da Vale em Brumadinho, no final de janeiro do ano passado. As dimensões trágicas desse evento levou à revisão do protocolo de segurança de outras lavras de extração de minério de ferro, o que ocasionou a paralização da produção em diversas localidades. Muitas delas forneciam ao Complexo de Tubarão, que viu a produção declinar.

Tanto que o relatório de produção da Vale apontou que entre janeiro e março de 2020, houve queda de 33,9% na produção de pelotas de minério em Tubarão em relação ao mesmo período de 2019.

Pandemia

Esse cenário regional difícil se soma à crise econômica global gerada pela pandemia do novo coronavírus, que reduziu a demanda por bens como carros, aviões e também a construção civil, setores que consomem produtos da mineração/siderurgia.

O funcionamento da planta de Tubarão é dependente do que ocorre no mercado externo por duas razões: uma porque grande parte da produção de finos de minério, pelotas de minério e aço é exportada. A outra porque o minério de ferro é commodity e, como tal, tem preço determinado pelo mercado internacional.

De acordo com a Refinitv – fornecedora global de dados e infraestrutura do mercado financeiro – a redução ou paralisação da produção de minério de ferro por conta da pandemia em diversos polos produtores espalhados pelo mundo pode gerar problemas de suprimento do produto. Isso poderá compensar a queda de preços, mas no curto prazo.

A Refinitv explica também que o setor tem expectativa de que medidas anunciadas por diversos governos – dos EUA à Europa, passando pela China e resto da Ásia – para a recuperação econômica pós pandemia levem a recuperação razoável da demanda. Mas há o temor de que os efeitos colaterais das medidas de estímulo, como o crescimento de déficites fiscais e inflação, possam atrapalhar essa recuperação.

Mineradora aguarda decisão

da Justiça para voltar a produzir

Há 11 dias a Vale suspendeu a extração de minério de ferro em Itabira – MG (essa reportagem foi atualizada em 16/06/20). A empresa aguarda decisão judicial para poder voltar a operar. Veja a íntegra do comunicado da mineradora sobre a situação e o impacto no Complexo de Tubarão, no ES.

A Vale informa que, em 5 de junho de 2020, adotou as medidas necessárias para suspender as atividades do estabelecimento minerário do Complexo de Itabira, composto pelas minas de Conceição, Cauê e Periquito, em atendimento a uma decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, que restabeleceu os efeitos de Termo de Interdição emitido pela Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, em Minas Gerais.

A determinação vigorará até julgamento do mérito da ação ou até que sejam implementadas as medidas de controle para proteção ao COVID-19 determinadas pelos auditores fiscais do trabalho, sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 500.000,00, fixada em uma decisão proferida em 6 de junho de 2020 pelo mesmo tribunal.

A Vale informa que a paralisação das atividades das referidas minas segue todos os critérios técnicos e protocolos de segurança, para proteger a saúde dos trabalhadores. A Vale informa, ainda, que tem consciência de sua responsabilidade socioeconômica e, desde o início da pandemia, tem buscado meios para contribuir com a sociedade brasileira na luta contra o vírus, protegendo seus empregados e as comunidades no entorno de suas operações, conforme descrito a seguir.

Testagem em massa

Desde o início da pandemia, a Vale vem realizando uma série de ações com vistas a prevenir e mitigar os efeitos provocados pelo COVID-19. O protocolo da Organização Mundial da saúde (“OMS”), seguido a rigor pela Vale é: testar, afastar, rastrear e tratar os casos positivos ou suspeitos. Ao seguir o protocolo da OMS e tomar as medidas corretas, a Vale contribui para o controle do COVID-19 nas cidades onde atua. Seguindo essa filosofia e em linha com as recomendações da OMS, a Vale vem promovendo a testagem em massa de seus empregados no Brasil, permitindo, dessa forma, o mapeamento das pessoas que tiveram contato com o vírus e estão assintomáticas. Até 05 de junho foram testados mais de 75% da força de trabalho (próprios e terceiros) da empresa no país.

 

Outras medidas de prevenção

Além dos testes em massa, desde o início da pandemia a Vale adotou diversas outras medidas voltadas a assegurar a segurança de seus empregados e colaboradores, tais como: (i) adoção do sistema de “home office”; (ii) manutenção dos trabalhadores acima de 60 anos ou com fatores de risco em casa independente de suas funções; (iii) redução de efetivo nas operações e escalonamento de turnos; (iv) o uso obrigatório de máscaras nas unidades; (v) triagem diária na chegada dos trabalhadores, com aferição de temperatura corporal e aplicação de questionário de saúde para 100% do efetivo; (vi) medidas de distanciamento social e controle, como aumento da frota de ônibus para reduzir lotação e redução do número de empregados em refeitórios; e (vii) higienização constante das instalações.

Guidance de produção

O guidance de volume de produção de minério de ferro de 310-330 Mt em 2020 considera um impacto negativo de 15Mt provenientes de eventuais impactos decorrentes do combate ao COVID -19. Considerando (i) a produção mensal esperada de 2.7Mt do Complexo de Itabira para os próximos meses e (ii) o provisionamento de até 15Mt de perdas associadas à COVID-19 em 2020, não há, nesse momento, necessidade de revisão do guidance. A Vale informa, no entanto, que poderá haver desabastecimento temporário de pelotas para o mercado interno, enquanto permanecer a paralisação de Itabira, tendo em vista que o complexo fornece pellet feed para as pelotizadoras do complexo de Tubarão.

ArcelorMittal Tubarão está operando

abaixo da metade da capacidade

Como já descrito anteriormente nesta reportagem,  a ArcelorMittal Tubarão não comentou como a paralisação da produção da Vale em Itabirito pode afetar a planta da empresa no ES. Mas em nota enviada por sua assessoria de imprensa, disse que atualmente opera somente o Alto Forno 01, equipamento que tem capacidade produtiva de 3,5 milhões de toneladas/ano.

Apenas um dos três alto fornos está funcionando na siderúrgica que foi responsável por mais de 12% do PIB do ES em 2016. Foto: Divulgação/ArcelorMittal Tubarão.

A capacidade plena da planta da Arcelor em Tubarão é de 7,5 milhões de toneladas ano, segundo o Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela empresa por ocasião de sua expansão produtiva executada na década de 2000. O Alto Forno 02 foi parado no ano passado e o Alto Forno 03 foi parado já nesta pandemia.

Maior empresa instalada na Serra e 3ª maior planta de produção de aço do país, a ArcelorMittal Tubarão é um dos pilares da economia capixaba. Estudo feito pelo Ufes encomendado pela empresa, revelou que em 2016 as atividades da mesma movimentaram 12,6% do PIB do ES. Só de empregados próprios, são cerca de 5,3 mil segundo o documento.

E neste período de pandemia, a siderúrgica afirma que tem adotado medidas de prevenção à covid-19 entre seus funcionários, inclusive oferecendo suporte psicossocial a eles e seus familiares. Confira abaixo íntegra da nota envida na última terça-feira (09) ao Tempo Novo.

A ArcelorMittal Tubarão informa que está operando exclusivamente com o seu Alto-Forno 1, que tem capacidade produtiva de 3,5 milhões de toneladas/ano. Acrescenta que tem seguindo rigorosamente todas as orientações e protocolos orientados pelas autoridades da área de saúde para controle da disseminação do Novo Coronavírus.

Dentre as ações empreendidas estão a implantação de teletrabalho para as funções administrativas, a intensificação das campanhas orientativas para empregados e seus familiares, o reforço nas ações de higienização dos espaços internos, o distanciamento seguro nos ambientes coletivos, incluindo os refeitórios e transporte, e a medição da temperatura dos empregados que vão à empresa, com distribuição de máscaras para uso interno. Também tem oferecido acolhimento psicossocial para empregados e seus familiares.

Redação Jornal Tempo Novo

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