Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Opinião | Vidigal quer enfrentar Muribeca

Sergio Vidigal e Pablo Muribeca. Crédito: divulgação.

Enormes indecisões somadas a um cenário quase polarizado para a eleição de 2024 vêm se desenrolando lentamente na Serra. Essa conjuntura faz despontar dois atores explícitos: o atual prefeito Sergio Vidigal (PDT), que tem a possibilidade constitucional de ser candidato à reeleição; e o deputado Pablo Muribeca, que já se elegeu deputado falando da eleição para prefeito.

A diferença na perspectiva do comportamento é que Muribeca (que está filiado ao Patriota e deve migrar para o Republicanos) fala e age publicamente com a finalidade de ser candidato em 2024; já Vidigal se faz de morto para enganar o coveiro, mas é tão candidato quanto. Ambos parecem querer se enfrentar, isolando todos os demais. Na verdade, a polarização parece ser politicamente benéfica para ambos, cada um na sua narrativa.

Desde que foi eleito vereador em 2020, Pablo mirou em Vidigal e do seu jeito extravagante, deu a entender que era ele quem estava encurralando o prefeito. Ideia que acabou sendo fortalecida em 2022, quando essa estratégia lhe rendeu um mandato de deputado. Mas, num olhar mais refinado, talvez Vidigal esteja longe de estar encurralado. Na verdade, ele parece até consentir com uma candidatura de Pablo, de uma forma politicamente sutil; até porque o prefeito vai ter que enfrentar alguém em 2024 – caso ele seja efetivamente candidato, conforme entende em peso o meio político da Serra.

Vidigal não exerce um poder tão hegemônico como ocorreu em 2008, quando foi eleito prefeito com 94,21% dos votos válidos. Na ocasião, não havia sequer um adversário, e foi necessário inventar Tio João, do PRTB, como candidato para poder simular uma disputa. Esse não é mais o caso. A partir dessa época, a hegemonia vidigalista foi rompida quando ocorreu o racha entre ele e seu ex-secretário Audifax Barcelos, dividindo o grupo político. Nesse sentido, Vidigal vai ter que enfrentar alguém, e essa pessoa certamente não será um candidato inventado de última hora. Eis que Pablo pode ser útil a ele.

Vidigal não tem falado abertamente sobre eleição, por isso tudo é muito especulativo. Mas é evidente que Pablo passou a ocupar um espaço no tabuleiro eleitoral da Serra, o que agitou o meio político local. Com Pablo na disputa, o ex-prefeito Audifax Barcelos precisa de muita cautela, por exemplo. Isso porque, observa-se (de uma forma um tanto quanto simplista) que existem dois grandes grupos de eleitores:

1 – Aqueles que votam em Vidigal ou Audifax, não como adversários políticos, mas como metades de uma mesma Serra que foi construída após 1996 e conseguiu avançar em diversas áreas da vida em sociedade. 2 – Aqueles que não votam em Audifax ou Vidigal, por diferentes razões, mas fundamentalmente pelo cansaço de quase 30 anos de alternância na Prefeitura.

Nesse sentido, de muito longe, Vidigal tem a maior capacidade de se movimentar politicamente já que tem uma Prefeitura em mãos, aliado ao fato de que, pelo menos em tese, também terá apoio do Palácio Anchieta, o que pesa muito na balança eleitoral. Paralelamente, Pablo tende a carregar os votos do ‘novo’, ou seja, dos eleitores cansados da alternância atual. Além dele ter a própria fatia de votos, que já demonstrou ser expressiva, os índices de rejeição de Vidigal e Audifax fazem de qualquer terceira via (quando única) uma alternativa competitiva.

Essa conta pressiona Audifax, que está sem mandato eletivo, sem estrutura e já vem de um resultado negativo na eleição de 2022. Nessas condições, o custo de uma derrota pode ser maior do que a possibilidade de uma vitória, já que hipoteticamente, em um cenário com Vidigal, Audifax e Pablo na eleição de prefeito, há um risco bastante razoável de Audifax ficar de fora dada as variáveis envolvidas, o que torna as coisas bastante perigosas para o ex-prefeito, que já não topa aventuras eleitorais. Por isso, Pablo é útil a Vidigal para isolar Audifax. Eis o motivo, por exemplo, do ex-prefeito incentivar outras candidaturas, pois assim dividiria o eleitorado e, com base nos votos que ele e Vidigal teriam por natureza do processo eleitoral, haveria mais chances de ir ao segundo turno. A dificuldade é que fazer isso sem a máquina nas mãos é uma tarefa bastante complexa.

Pablo é útil também para dividir um espaço preenchido por personalidades mais moderadas, experientes e politicamente maduras, porém ainda jovens, como os casos do deputado estadual, Vandinho Leite, e o secretário de Estado, Bruno Lamas. Ambos já experimentaram os sabores e dissabores da política e não serão candidatos a qualquer custo. Em especial Vandinho, que tem uma condição partidária privilegiada, mas tem sido bastante reservado ao tratar de eleição e faz um jogo maroto esperando o desenrolar dos fatos (embora o assunto eleição esteja sempre presente por onde ele anda). Com o fator Pablo em jogo, os mesmos riscos que permeiam uma hipotética candidatura de Audifax estão em campo, com a diferença de que, nos exemplos de Bruno e Vandinho, o grupo de eleitores a ser dividido é aquele que vota pela renovação.

Assim, Pablo é duplamente útil a Vidigal, estreitando os espaços nos dois grandes segmentos de eleitores e pressionando nomes como Audifax, Vandinho, Bruno Lamas ou outros hipotéticos candidatos potencialmente adversos a Vidigal, mas que não topam ser candidatos a todo preço. Dessa forma, tendo Pablo como adversário, Vidigal consegue dificultar diversas outras candidaturas mais moderadas e prudentes, sem fazer muito esforço e sem ser obrigado a dividir seu poder e o seu governo. Outro fator que precisa entrar nessa contabilidade é que Pablo carrega consigo, digamos… algumas controvérsias fora da política. Questões que devem ser exploradas na eleição da Serra, que costuma não ter filtros.

No arranjo partidário, Pablo também é bastante útil, pois, ao fechar o caminho para as demais campanhas, os partidos passam a ter poucas opções. Na montagem de chapas, quem está no poder costuma ter mais facilidades, e o prefeito deve ser o principal estruturador de partidos e chapas para a eleição, apoiado, em tese, pelo governador Renato Casagrande, aliado de Vidigal. Nesse arranjo, não seria surpresa se Vidigal aparecesse com uma tropa de 300 a 350 candidatos a vereador distribuídos em pequenas siglas inorgânicas.

Ou seja, em um cenário em que Vidigal não exerce um poder hegemônico e no qual terá, invariavelmente, um adversário competitivo, Pablo parece ser o melhor deles. O próprio prefeito já tem feito uso do microfone em determinadas oportunidades para polarizar com Muribeca, dando sinais de que ele quer um ‘mano a mano’. A ideia de que Muribeca encurrala Vidigal, na verdade, é uma cortina de fumaça do próprio Vidigal, que manipula a jovialidade de Pablo para encurralar todo o tabuleiro eleitoral da Serra, custando quase nada a ele. Tanto é que Vidigal governa sozinho, não divide seu governo com nenhum partido ou liderança política de maior expressão, um privilégio para poucos numa cidade com os níveis de complexidade da Serra.

De qualquer forma, Muribeca não deixa de ser um pré-candidato perigoso para Vidigal, seja pelos seus discursos agressivos ou pela sua disposição de fazer política. Ele não é alguém que pode ser subestimado, já conquistou seu espaço, e, se conseguir aglutinar aliados, pode se tornar cada vez mais competitivo. Vandinho e Audifax são os mais importantes nesse sentido, embora ambos ainda tenham tempo e plena condição de serem candidatos competitivos, se assim desejarem. Pablo também vai precisar neutralizar um apoio maciço do Palácio Anchieta, e seu mandato de deputado, isoladamente, não será suficiente. Eis que entra em cena essa amizade tão exortada com o presidente da Assembleia, Marcelo Santos, que pode servir de interlocutor. Mas em todo caso, parece ser razoável supor que a pré-candidatura de Muribeca, criou um nó eleitoral que, paradoxalmente, pode beneficiar aquele que ele mais critica, ou seja, o próprio Vidigal.

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