Por Bruno Lyra
Ocorrido em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco (Vale + BHP) é agora. Não que tenha desaparecido com o abaixar da lama no leito do rio Doce e do oceano Atlântico, a presença dos metais pesados na água e pescados apontados por estudos atestam essa permanência. Mas em tempos de enchentes, o desastre / crime ambiental fica mais evidente com o Doce inchado de tanta chuva a transbordar de sua calha para várzeas marginais e cidades ribeirinhas.
A força do rio revolve os milhões de toneladas de lama tóxica e nova carga de contaminante tinge de grená as águas doces e salgadas em seu caminho. A enchente coincidiu com a ressaca do mar capixaba provocada pela tempestade Kurumí, ajudando a ativar na costa uma bomba de espalhar sujeira da mineração.
Há muitas perguntas sem respostas sobre a segurança das águas e dos pescados do rio para a população que os consome. Em cidades que só têm essa fonte de água, como Colatina, quem pode compra o líquido envasado – a chamada água mineral – ou vai buscar de mananciais longe do Doce.
E para quem come peixes e mariscos do Atlântico, uma vez que os metais como alumínio, zinco, cobre e arsênio tiveram aumento de concentrações após a chegada da lama? Como saber se o peixe e o camarão da moqueca servida em qualquer restaurante capixaba não foram pescados nos pontos críticos de contaminação, uma vez que na foz do Doce e seu entorno estão grandes pesqueiros?
Como essa lama chegou ao litoral da Serra e adentrou o vale do rio Reis Magos, qual o tamanho do perigo dela para o morador de Serra Sede, que bebe água deste manancial que é influenciado pela força das marés até o ponto de captação da Cesan em períodos de seca?
Enquanto essas dúvidas permanecem, a impunidade com os responsáveis segue. Até para outro crime da mineração, o da Vale em Brumadinho há um ano, já se desenha uma punição mais efetiva com indiciamento por homicídio doloso a diretores da mineradora e da empresa de consultoria que atestara, falsamente, segundo o Ministério Público de Minas Gerais, a segurança da barragem que estourou.
Indenizações soam pífias ante a desgraça que se abateu aos diretamente atingidos pela lama da Samarco. Muitos atingidos ainda sequer foram reconhecidos pela fundação inventada (Renova) para tentar desassociar o crime ambiental e os homicídios do nome das mineradoras.
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