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O suplício do bucólico e charmoso balneário

Ansiedade, medo e preocupação predominaram sobre moradores e frequentadores de Manguinhos neste carnaval, na maioria das classes A e B. Foi a primeira folia em que dividiram o espaço com os novos moradores de Ourimar, bairro vizinho, que há menos de um ano ocupam prédios populares, voltados para as classes D e E. Conjunto de prédios esse, ironicamente apelidado de ‘Carandiru’.

A área que abriga esse conjunto tem 50 mil metros quadrados e pertencia à EDP Escelsa, onde mantinha um centro de treinamento. Depois ficou ociosa e foi colocada à venda. Foi decretada de utilidade pública pelo ex-prefeito Sérgio Vidigal, em 2009.

Na ocasião, o Município estava contraindo empréstimo junto ao Banco Mundial para obras de infraestrutura com foco no turístico. O Banco Mundial colocou como medida compensatória a despoluição de Manguinhos, principalmente dos córregos que partem de vila Nova de colares, Feu Rosa, cujas margens estavam ocupadas por invasores.

O projeto inicial visava transferir essas famílias e alojá-las em um conjunto com infraestrutura e assim, atender à medida compensatória do Banco Mundial.

Inicialmente pensou-se em fazer uma vila de casas germinadas, mas não atendia o número de famílias. Partiu-se então para um projeto de apartamentos, não os quase 700 de hoje.

Como a desapropriação e as obras seriam pela Caixa, no programa Minha Casa Minha Vida, o número de apartamentos inicialmente, não remuneravam o suficiente para bancar o empreendimento e garantir o lucro do banco. Foi quando buscou-se o máximo de unidades que o local permitia. Esse foi o primeiro item que começou a desfigurar a ideia inicial.

O segundo veio com as enchentes do final de 2012 e inicio de 2013, que inundou boa parte da Serra. Isso obrigou o município a alugar imóveis para desalojados, no programa de aluguel social, aumentando muito essa despesa.

Enquanto as obras do conjunto eram tocadas, a Prefeitura iniciou cadastro de interessados e com filas enormes de pessoas tentando garantir um apartamento. Aquilo que seria restrito aos moradores do entorno de Manguinhos foi escancarado, vindo gente até de outros municípios.

O dinheiro do Banco Mundial não saiu e muito menos a despoluição. Criou-se um problema maior, um conflito de classes sociais.

Dentro do ‘Carandiru’ conflitos são comuns eles, brigas, assassinatos, tráfico e uso de drogas. São quase 700 famílias vindas de diferentes regiões do município e até de fora, provavelmente mais de duas mil pessoas, ocupando ‘apertamento’ de pouco mais de 40 m2. Tornou-se um lugar onde as regras condominiais não são respeitadas e onde pode acontecer de tudo.

Manguinhos nas mãos da Prefeitura e da MRV

Manguinhos nunca mais será o mesmo. Acabou-se a tranquilidade, pois são aproximadamente 400 metros que separa um do outro, percurso fácil de fazer a pé.

Jovens e adolescentes descem em grupos para a praia, a qualquer hora do dia e dado o comportamento deles, impõe medo e terror aos moradores. Enquanto isso há registros de arrastões, aumento no número de roubos de carros, às residências, ao comércio e assaltos à mão armada.

Esse carnaval deixou bem claro que Manguinhos não será mais a mesma praia, frequentada por famílias que se juntavam no último recanto bucólico do nosso litoral, para desfrutar da calmaria, da beleza natural e do convívio alegre, despojado e acolhedor característico do local, com seus bares e restaurantes famosos em toda a Grande Vitória, bem frequentados por uma elite econômica e intelectual.

Manguinhos vive a mesma ocupação desenfreada e impensada que vitimou e condenou Jacaraípe. E se a Prefeitura permitir que a MRV construa o volume de apartamentos que quer fazer no entorno do bairro, a situação se agravara dezenas de vezes.

 

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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