A morte pode ser triste e dolorosa, mas também pode ser transformada em arte de várias formas diferentes. Para artistas da Serra, o tema inspirou música, literatura e até curtas-metragens.
É o caso do rapper Clovis Jorge Souza, conhecido como ‘Negro Boris’ que escreveu e gravou o rap ‘Antes de Morrer’ em homenagem a dois amigos que morreram jovens. “Uma homenagem em forma de alerta, para que as pessoas não se envolvam com drogas ou crimes. Escrevi a letra entre 2001 e 2002 e lancei em 2003 e ela meio que se tornou um hino no meio da galera que curte esse tipo de som. Tocou durante muito tempo na rádio Universitária, no programa Universo Hip Hop”, conta o rapper de Nova Carapina I.
Já o poeta, compositor e músico, Teodorico Boa Morte, de Nova Almeida, dedica em seu livro ‘Deixa o meu canto voar’ um capítulo somente sobre o tema. “Falo que morte é sinônimo de vida, o princípio de uma nova jornada”. Ele também retrata o tema no livro Insurreição de Queimado, que fala sobre a revolta de escravos ocorrida na Serra em 1849. “Nele mostro a morte como símbolo de liberdade, uma vez que os negros fadados à morte ali morreram em prol de uma causa”, relata.
O cineasta de Novo Horizonte, Gabriel Nadípeh, também mostra a morte em um dos curtas no qual ele fez a direção: ‘Sob Olhos’ será apresentado ao público em 2019. “No curta que está em fase de pós produção, e ele traz um questionamento sobre evolução e progresso. No filme a morte é apresentada como fim de uma etapa e o início de outra. Não necessariamente como algo ruim, mas sim como consequência de escolhas”, explica o diretor.
Já Giulliano QI, do grupo de hip hop Dogma Mc’s foi além do tema a morte e entrou num assunto ainda mais polêmico, o suicídio. Na música ‘Dúvidas e Ilusões’, a letra fala de conflitos internos e de batalhas interiores. “A canção tem participação de Udson Santos. A música em si saiu de um tema lançado dentro do grupo, que escreveu dentro da temática dúvidas e ilusões que, inclusive, é o nome da canção”, conta o músico de Jacaraípe.
A psicóloga Fernanda Targa Borges, de Laranjeiras, diz que em uma de seus ensaios fotográficos ‘Expressões’ mostrou que a morte também pode ser encarada por uma perspectiva simbólica. “E, assim, refletirmos a respeito do que ela pode representar para nós. Quando estamos implicados com o nosso processo de autoconhecimento, em vários momentos nos percebemos lidando com certas mortes em nós mesmos, e vivemos diversos lutos ao longo da nossa vida, ao nos depararmos com finalizações e encerramentos, de etapas, de ciclos, de relações, de um trabalho, de um comportamento, etc. Esses momentos nos convidam a pensar “o que em mim ou em minha vida precisa morrer para dar espaço para o novo?”, destaca.