Moradores de Jacaraípe estão se mobilizando para salvar uma preciosidade existente num fundo de vale do bairro São Patrício: um remanescente de mata Atlântica, que além de abrigo para animais silvestres, possui também nascentes em seu interior. Deposição de lixo, entulho além da pressão imobiliária – incluindo tentativas de invasão – são as maiores ameaças.
A área verde fica no final da rua Jásper e ocupa um perímetro de cerca de 800 metros, como conta o produtor cultural, empresário e um dos apoiadores da iniciativa de preservação, José Fernando Pereira.
Segundo ele, o espaço é definido como Zona de Proteção Ambiental (ZPA) no Plano Diretor do Município. “Como pessoas que amam a vida, precisamos nos unir para preservarmos este espaço que está sendo destruído pela invasão irregular. Ali há macacos, coelhos, lagartos, gambás, aves como periquito, bem-te-vi, juriti, lambua, jacupemba, enfim, uma variedade enorme”, enumera José Fernando.
Na última quinta-feira (02) José Fernando esteve no local, retirou alguns entulhos e limpou uma placa da Prefeitura da Serra que indica ser aquele espaço de preservação. A ação contou com ajuda do ativista ambiental e turismólogo Luciano Andrade, o Tio Lú, que também é morador da região.
“Num pequeno recorte temos essa riqueza. Apesar de ter plantas exóticas como mangueiras e jaqueiras, há também as nativas. A vegetação ajuda a reduzir o calor, purificar o ar. Por seu um vale, o local também ajuda a reter água da chuva, auxiliando na redução de alagamentos. Nosso objetivo não é só preservar essa área verde. Esperamos que a ação sirva de gatilho para outras iniciativas comunitárias de proteção ambiental na Grande Jacaraípe”, acrescenta Tio Lú.
O turismólogo ressalta que a ideia é que o local receba manutenção e estrutura para servir como área de lazer, turismo contemplativo, de observação de pássaros e educação ambiental. “O poder público tem seu papel, mas participação da comunidade é fundamental. Ela é quem precisa se emponderar para transformar esse local em espaço de vivência, requalificar esse território”, avalia.
Construção barrada
Morador vizinho à área verde há mais de 20 anos e também comerciante em São Patrício, Ederval Gomes da Silva, o Vavá, disse que a fiscalização da prefeitura chegou a impedir que uma casa fosse construída irregularmente no local.
“Já houve muitas tentativas de invasão. Tem até hoje parte de uma casa que a fiscalização barrou a construção que já havia sido iniciada. Mas ainda há gente que joga lixo, entulho. Gostaríamos que a prefeitura fizesse a manutenção quando há queda de árvores. Que colocasse bancos no entorno. Quem tenta manter limpo e dar manutenção são os próprios moradores vizinhos”, diz Vavá.
O morador acrescenta que há duas nascentes na área verde, que dependendo do volume de chuvas fluem em direção ao rio Jacaraípe.
Moradora de São Patrício há 38 anos, Eleuza Teixeira de Paula diz que está disposta a trabalhar pela proteção e recuperação da área.
“Quando chegamos aqui no bairro havia muita natureza. Com o tempo e o crescimento, muita coisa foi degradada. Precisamos recuperar e preservar o que sobrou. Queremos plantar, arborizar, isso vai melhorar nossa qualidade de vida, valorizar nosso bairro. Estou disposta a ajudar”, salienta Eleuza.
Prefeitura confirma que área é protegida e diz que não autorizará ocupação
Em nota divulgada no início da tarde desta segunda-feira (05), a Prefeitura da Serra confirmou que o PDM atribui à aquela área o status de Zona de Proteção Ambiental. Disse que leis federais também protegem o local, por isso está proibida sua exploração comercial.
Porém não pretende elevar o local à condição de unidade de conservação – como é por exemplo o Mestre Álvaro e a lagoa Jacuném – por considerar que a área não atende aos critérios para a implantação.
Na nota a Prefeitura diz também que não deve implantar um parque de lazer ali, por se trata de um fundo de vale importante para drenar a água. Acrescenta ainda que a indicação da Secretaria de Meio Ambiente (Semma) é pela não ocupação da área.
Por fim, a Prefeitura diz que a fiscalização ambiental visita estes locais com frequência. Denúncias podem ser feitas através dos telefones: 3291-7435 / 99951-2321. O horário de atendimento é entre 8 e 18 horas, de segunda à sexta-feira. E-mail: dfa.semma@serra.es.gov.br.