Bruno Lyra
Terminou o 1º semestre de 2019 e, para o meio ambiente, não há o que comemorar. O bom avanço conceitual e a parca conquista prática da Constituição de 1988 para cá retrocederam nos últimos anos. Retrocesso acentuado no governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Comandado por um condenado por crime ambiental, Ricardo Salles, o Ministério do Meio Ambiente quase foi extinto. O Ibama foi demonizado e ficou mais frágil. O desmatamento da Amazônia vem batendo recordes. O governo titubeia sobre acordo já assinado para a redução dos gases do efeito estufa. Situação que,aliadaao relaxamento da política ambiental, ameaça as exportações.
Na contramão dos países desenvolvidos, o Brasil vem liberando a entrada de novos agrotóxicos em ritmo acelerado. Indígenas, cujas terras e comunidades significam floresta de pé, vêm sendo atacados sistematicamente. No Espírito Santo, o cenário também não é animador. Apesar de ser de partido de oposição a Bolsonaro, o governador Renato Casagrande (PSB) escolheu o ex-diretor da Vale para presidir seu órgão de meio ambiente, o Iema.
Órgão este que passou a negar informações públicas ao TEMPO NOVO, fato inédito para um jornal que tem editoria dedicada à temática ambiental há 14 anos. Enquanto isso, o famoso pó preto segue castigando a Grande Vitória. Há duas semanas, ele apareceu ainda mais brilhante em precipitação visível sobre casas e moradores de Carapebus.
Rejeito siderúrgico descartado pela Vale na Praia de Camburi pode vir parar na Serra, num aterro da Marca Ambiental licenciado pelo mesmo Iema aos pés do Mestre Álvaro. A cidade tenta reagir, mas as rusgas entre Legislativo e Executivo municipais atrapalham.
E o que dizer da Suzano, que comprou a Fibria e assumiu os cerca de 2,5 mil hectares de eucaliptais no município? A empresa não explica como é a pulverização de agrotóxico que faz com aviões sobre áreas entre Putiri, Jacaraípe e Nova Almeida, onde estão a lagoa Juara, o rio Reis Magos, incluindo a captação de água que atende Serra sede.
Também preocupam os impactos do futuro Contorno do Mestre Álvaro. Falta clareza sobre as medidas de redução dos danos, sobretudo passagens de animais silvestres – a região é corredor ecológico – e proteção ao que sobrar de alagados. O saneamento também vai mal. Quatro anos e meio após a celebrada PPP do esgoto na Serra, rios, lagoas e praias onde há desembocadura de riachos seguem com águas fétidas e enegrecidas.