Yuri Scardini
Está cada vez mais intensa a conversa de bastidor de que o deputado federal Amaro Neto (PRB) pode ser candidato a prefeito da Serra. Para alguns, pode parecer uma informação irreal, que é justificável pelo caráter fisiológico deste fato. Mas fisiologismo e política têm andado de mãos dadas já há algum tempo – e é uma das origens da crise de representação brasileira.
Feita a observação, eleitoralmente, Amaro na Serra faz todo sentido. Este município tem inclinação ao populismo (seja de direita ou de esquerda): cidade com PIB alto, mas com renda per capita baixa; população conservadora, com forte influência do neopentecostalismo; e forjada através de processos de imigração em massa e desorganizada, que gerou um subproduto de ausência coletiva do sentimento de pertença e identidade local.
No campo mais objetivo, Amaro sempre vai partir na dianteira em qualquer pesquisa de intenção de voto para qualquer cidade capixaba. Por isso, a preocupação do deputado é ser desconstruído, assim como foi feito em Vitória na eleição de 2016. Na Serra, não tem programa eleitoral na TV. A eleição é na rua e na internet, duas searas que Amaro domina.
O cenário político também contribuiu muito: depois de 12 anos, encerrou-se um ciclo de disputa direta entre Audifax e Vidigal, e este último, que ainda pode ser candidato, perdeu muita capilaridade eleitoral.
Mas a quem interessa uma candidatura de Amaro na Serra? A resposta é cristalina: para todos… de fora da Serra, é claro. Interessa para o PSL, de Carlos Manato, já que desobstrui a eleição de Vitória e torna o bolsonarista favorito – de acordo com recentes pesquisas eleitorais divulgadas.
Interessa ao PT, do ex-prefeito Coser; ao PSB, do governador Renato Casagrande; ao PPS, do prefeito Luciano Rezende; ao próprio PRB, do presidente da Assembleia, Erick Musso. Enquanto isso, lideranças da Serra – maior economia do ES – são passadas para trás como se fossem descartáveis. Será que o contexto político de Vitória vai atropelar a Serra?