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Evany Lucas Loyola e a história com a Educação na Serra

“As escola precisam inovar, trazendo música, teatro, artes e conteúdos mais articulados com a realidade dos alunos”, aponta Evany. Foto: Bruno Lyra

Professora, pedagoga e administradora, Evany Lucas Loyola é uma das precursoras da educação privada na Serra. Com sua família, fundou a escola Branca de Neve em Laranjeiras, que mais tarde geraria os colégios Mundo Livre e Centro Educacional Valparaíso (CEV). Este último desdobrou na faculdade UCL. Aos 87 anos Evany revela como vê os desafios atuais da educação.

A senhora fundou uma das primeiras escolas particulares da Serra, a Branca de Neve. Como foi isso?   

Foi quando me aposentei em 1983. Antes disso trabalhei em colégios públicos em Vitória e Vila Velha, onde cheguei a dirigir escolas. A Branca de Neve foi fundada na casa da minha filha Maria Ângela, em Laranjeiras.  Foi a 2ª escola particular da Serra, porque os Batistas haviam fundado uma antes.

Naquela época a senhora e seus parceiros perceberam que havia uma demanda por escola privada aqui na Serra?

Montamos primeiro uma pré-escola; foi o que requeri ao Estado.  Em 1983 matriculamos 50 alunos. No ano seguinte dobrou. Quando chegou ao terceiro ano eu requeri de pré à quarta série para poder manter os alunos que já estavam na escola e trazer os que vinham de outras. Tivermos que ampliar a escola. Depois os pais vieram pedindo de quinta à oitava. Então compramos o terreno em Valparaíso onde fundamos o CEV. O nome foi escolhido numa eleição entre os alunos. Em Laranjeiras, outra filha, a Virgínia, fundou a escola Mundo Livre, onde era a Branca de Neve.

O CEV foi tocado pela família da senhora, e mais tarde veio desdobrar na faculdade UCL…

Sim, eu sonhava todo dia com a primeira faculdade na Serra colocada por nós, mas o meu genro Carlos Alberto estava na França e demoroua resolver. Quando conseguimos, já não seria a primeira faculdade da Serra. Mas a UCL está de pé graças ao meu sonho, com muitos cursos focados no mercado de trabalho da Serra e região.

As escolas privadas da Serra de hoje dão conta de atender à demanda da nova classe média que surgiu na cidade?

Sim, a Serra cresceu muito e trouxe novos empreendedores na educação. Mas quem investe nesse ramo deve estar atento à qualidade e quantidade de escolas públicas, se o governo está valorizando o profissional da educação. É preciso enxergar uma boa oportunidade para entrar no mercado.

A internet trouxe o ensino à distância e a possibilidade infinita de acesso à informação. Isso não coloca em xeque o modelo tradicional de educação?

A educação tradicional pode ter defeitos, mas tem muito valor. A internet é uma ferramenta maravilhosa para o ensino. Mas é preciso ser usada sob orientação, acompanhamento. Da família, inclusive. Do contrário a internet deixa de ser uma ferramenta boa e pode virar um problema. A escola sem a família não dá certo. É preciso união das escolas, famílias e igrejas para cuidar da educação dos jovens.

Por diversas razões as escolas têm se tornado cada vez menos atraentes para os estudantes. O que precisa mudar?

Há muito tempo a escola se prende a um currículo e acabou. Precisa inovar ou buscar coisas antigas que funcionavam, como os clubes de leitura. Tem que ter teatro, canto, laboratórios, atividades práticas e fugir da ‘decoreba’ ou de fazer só os que os professores pedem.  O professor tem que sair, mostrar, explicar. A internet pode ajudar nisso, mas não estamos sabendo aproveitar.

O professor atual tem condições se superar esses desafios?

Ele deveria ter melhor preparação para enfrentar uma sala de aula, ter vontade de se desenvolver. Tem muita gente na educação que não deveria ser professor, mas infelizmente são essas pessoas que invadiram o mercado hoje.

A escola não deveria estar tratando de temas que estão vivos, como por exemplo, o problema do pó preto na Grande Vitória?

O pó preto é de meter medo, de fazer a pessoa chorar. Deveria estar sendo trabalhado nas escolas há muito tempo. Porque se não sai da escola, sai das igrejas, das famílias. Mas acho que os três pontos fundamentais de uma sociedade estão muito parados.

A senhora se sente frustrada por ter trabalhado na educação de uma cidade que tem índices tão altos de violência?

Tá muito difícil, temos que parar e pensar como vamos poder produzir com os pensamentos que estão na cabeça desse povo agora. Essa violência também está nas escolas. Por isso muita gente boa não quer ser docente. O professor agora tem medo de fazer uma coisa extra para não ser contestado pela sociedade.

Como a senhora vê a situação das escolas públicas hoje, tanto estaduais, quanto as do município?

As escolas públicas no passado eram em menor número, o que dava tempo de fazer coisa melhor.  Agora são muitas escolas públicas. Teve muita melhora na estrutura e abrangência, mas a qualidade do ensino deixa a desejar.

A política de cotas nas universidades faz justiça social?

Sou contra as cotas raciais porque elas estimulam o racismo. Ainda mais no Brasil, que sempre teve a raça misturada. Por que uma pessoa de pele escura vai precisar mais do que eu? Tem o mesmo braço, a mesma perna, a mesma cabeça, pode estudar.  Mas as cotas para estudantes de escola pública e por faixa de renda estão certas, pois tem muita gente que quer estudar e não tem condições financeiras.

Como avalia a ideia do governo estadual de criar escola de tempo integral?

A escola integral é boa. Mas tem que ter estrutura e organização. Tem de saber aproveitar o tempo de estudo, botar arte, música, teatro.  Com o currículo e o modelo que se tem hoje não dá.

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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