Política

Embrião da eleição interna na Câmara da Serra vai ganhando vida e já dá sinais de problema

Na eleição da Mesa ocorrida em 1 de janeiro de 2017 até polícia foi chamada para acalmar os ânimos dos parlamentares. Foto: Arquivo TN

As eleições para os novos membros da Mesa Diretora da Câmara da Serra estão marcadas para novembro, mas nos bastidores, as negociações estão intensas entre os 23 vereadores, ex-vereadores e até servidores da Casa. Esse processo tem tudo para ser mais conturbado do que o de 2021, que reelegeu o vereador Rodrigo Caldeira (PSDB) para a função de presidente em circunstâncias avaliadas como pacíficas.

O grupo do atual presidente se reúne diariamente e é liderado também pelos vereadores Alex Bulhões e Teiltom Valim (PP). Circularam nos bastidores boatos de que o tucano estaria disposto a ser vice em uma chapa encabeçada por Bulhões, permanecendo assim com um fragmento do poder, mas perdendo o poderoso ‘trono’ presidencial.

Outro grupo tem a chancela do superintendente da Câmara de Vereadores e ex-aliado de Caldeira, conhecido como Fabricinho, que apesar de não ser da Serra e não ter mandato, atua descaradamente nos assuntos de interesse políticos da Câmara, desde 2019, quando foi um dos patrocinadores da crise entre os Poderes com o então prefeito Audifax Barcelos.

Fabricinho e demais colegas, agora investem na eleição de outros pupilos para manter sua influência no Legislativo Municipal; que a título de mera informação jornalística, tem orçamento anual de R$ 35 milhões e a disposição centenas de cargos comissionados, além, é claro, do poder constitucional de controlar e ditar o ritmo da institucionalidade da maior cidade do Espírito Santo.

Esse grupo tem dois potenciais candidatos, Wellington Alemão (PSC), que já foi muito próximo a Caldeira e Saulinho da Academia (Patriota), que está em seu primeiro mandato; a princípio, esse grupo teria mais simpatia do prefeito Sérgio Vidigal.

Tem ‘muita água para passar por baixo dessa ponte’, mas o que tem de concreto é que a gestação de uma nova mesa diretora na Câmara da Serra começou, só que dessa vez com grupos adversários mais bem definidos e com repercussões diretas para a eleição de 2024, o que faz com que tudo fique mais tencionado, já que é o pleito que verdadeiramente importa para a maioria dos vereadores.

Coisa que também, democraticamente falando, não tem nenhum problema e faz parte da natureza e evolução do processo civilizatório, especialmente no Ocidente, quando o Homem passou a substituir o pensamento mítico pelo racional na Grécia Antiga materializadas pelas reformas de Clístenes em 514 A.C que posteriormente evoluíram para uma concepção moderna de democracia sob a égide dos franceses em 1789 e dos americanos em 1776.

O único problema é a forma pela qual, nos últimos anos, a Câmara da Serra tem exercido tal direito legitimamente constitucional, que vai na contramão dos princípios que norteiam um processo genuinamente democrático próximos a visão de Montesquieu e Voltaire, ou sendo mais simples, mas não menos importante, do que ambiciona e espera qualquer cidadão serrano desejoso por uma cidade melhor, mais humana, mais transparente consigo mesma e que avance efetivamente para um local com qualidade de vida.

Voltando para os corredores da Câmara, Rodrigo Caldeira, que vai tentar uma vaga de deputado federal, precisa conciliar sua função de vereador, sua pré-candidatura e agora lidar com a pré-eleição da Mesa Diretora da Câmara, sob condições consideradas adversas, tanto em relação ao Poder Executivo, bem como a debandada de ex-aliados que tem a ‘mão peluda’ dentro da Câmara, incluindo  não-mandatário… alias… em especial os não-mandatários, que são eles que atuam nos bastidores da Câmara se esgueirando por trás dos lençóis da teatralização institucional.

Visando a manutenção de parte do seu grupo, Rodrigo vem tentando segurar aliados através do atendimento de demandas dos colegas, como a criação de comissões remuneradas, por exemplo. Ele já se mostrou habilidoso na condução de processos semelhantes e agressivos. Mas o outro grupo também tem muitas formas de contra-atacar. A guerra velada está no iniciozinho e vai se estruturando com o passar dos dias.

Na prática, já que não existe uma hegemonia conciliatória, este processo tem tudo para ser mais uma conturbada, nebulosa e intransparente eleição interna da Câmara, pago compulsoriamente pela população da Serra em meio a crise inflacionária brasileira que empurra famílias inteiras para a condição de miserabilidade; ainda mais na Serra, com suas 150 mil pessoas na linha da pobreza, ou, se o leitor preferir uma comparação mais evidente: duas Viana’s inteiras de pessoas sem garantia de se alimentar espalhadas pelas periferias da cidade.

É aguardado também se vai acontecer a velha prática clandestina – eticamente e moralmente falando – de se esconderem em sítios para conchavar a reta final da eleição com objetivo de evitar adultérios políticos, transformando a Serra, mais uma vez em chacota capixaba nos jornais de cunho estadual e nas conversas da elite de Vitória, assim como ocorreu no tragicômico 01 de janeiro de 2017, por exemplo. Ou mesmo como uma conhecida jornalista falou, em uma coletiva de imprensa no final de 2020 em tom de deboche: vai ser mais uma eleição “modelo Serra”.

Vale ressaltar em 2020 houve uma renovação de 80% do Parlamento Municipal, resta saber como vão se comportar estes novos vereadores em um processo eleitoral interno conflituoso. O primeiro, Rodrigo levou com o ‘pé nas costas’, e mesmo assim os parlamentares tiveram que passar uns dias de férias em um sítio pagos por sei lá quem, ou por eles mesmos, quem sabe?!… dessa vez o jogo é mais bruto. E aí, como vai ser? “Modelo Serra” novamente? Que a política da Serra não seja demonizada de novo, e que a democracia no sentido literal vença e enterre uma fama que não condiz com a grandeza da maior cidade do Espírito Santo e uma das maiores do Brasil.

Histórico:

Rodrigo Caldeira assumiu a Presidência da Câmara da Serra em março de 2018, após o afastamento da então presidente Neidia Maura, à época filiada ao PSD. Em seguida foi eleito para o biênio 2019-2020. Foi reeleito em 2021, com 15 votos, com a chancela do Executivo, para o seu terceiro mandato.

As eleições para a Mesa Diretora da Câmara da Serra podem acontecer a partir do dia 19 de novembro e até 30 de dezembro. Mas isso não impede que, regimentalmente, 16 vereadores se unam e apresentem a proposta para antecipação da data, com alteração do Regimento.

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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