Não é novidade o descaso com as águas. Episódios recentes confirmam tamanho desleixo que, além de paulatinamente destruir a biodiversidade, põe em risco a saúde, a economia e as conquistas da civilização.
Um desses episódios é o desastre/crime ambiental do petróleo nas praias do Nordeste e que pode até atingir o Espírito Santo e a Serra em breve. Além de escancarar a nocividade do modelo de consumo desenfreado e insustentável, revela o quanto as repostas do poder público e das corporações são inócuas para combater os efeitos.
O caso foi agravado pelo desmonte das políticas ambientais em nível federal. O governo Bolsonaro demorou para agir. E ainda pôs mais lenha na fogueira da polarização do país com bravatas acusatórias de seus ministros, amplificadas pelos barulhentos seguidores do presidente nas redes sociais, robôs ou reais.
Outros desastres crimes/ambientais de grande amplitude já atestaram a fragilidade de governos e corporações. Basta ver as repostas aos rompimentos das barragens de outro setor background da economia contemporânea do superconsumo: a mineração. Os prejuízos humanitários, ambientais e econômicos do rompimento da barragem da Samarco (Vale + BHP), em novembro de 2015, e da Vale em Brumadinho, no mês de janeiro de 2019, estão longe de ser equacionados.
Na Serra, foi adotada uma parceria público-privada (PPP) entre Cesan e Ambiental Serra no esgoto, iniciada em 2015. Enquanto mais gente passou a pagar taxa de esgoto e aumentar os lucros de alguns, as águas de rios, córregos e lagoas e praias seguem poluídas. O Município, que autorizou essa PPP, agora vai gastar dinheiro público para contratar uma empresa para monitorar o tratamento de esgoto.
No início de outubro, moradores de Serra Sede foram surpreendidos por uma água salobra, com cheiro de produto químico e cor estranha saindo das torneiras. Há relatos de que pessoas que consumiram o líquido passaram mal. Quase três semanas depois, a Prefeitura – que também é responsável por fiscalizar a qualidade da água distribuída pela Cesan – disse que o líquido está dentro dos padrões legais. A Cesan sequer veio a público se explicar.
As águas pedem socorro, enquanto o direito ao meio ambiente equilibrado previsto na Constituição é sumariamente ignorado.