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De locomotiva econômica a vagão operário

Bruno Lyra 

A década de 2000 foi pujante para a Serra.  No ritmo do crescimento da economia da cidade construtoras enxergaram potencial para o mercado habitacional da classe média.

A cidade operária formada duas décadas antes pela explosão migratória atraída pelas obras do complexo industrial de Tubarão (antigas CVRD e CST, hoje Vale e ArcelorMittal) e pelos projetos satélites dos Civits I e II dava sinais de que teria uma classe média mais numerosa.

Seja pela evolução social dos que aqui já moravam, seja pela migração de parte dos capixabas das orlas e Vila Velha, Vitória e até de Campo Grande, Cariacica.

Condomínios de padrão só visto até então nas zonas nobre de Vitória e Vila Velha surgiram. O epicentro foi a região de Laranjeiras, nos bairros Colina e Morada de Laranjeiras. Este último já ligado às proximidades de Manguinhos, que também recebeu empreendimentos.

Até áreas fora deste eixo viraram aposta. Vide o caso do Alphaville Jacuhy numa improvável área entre a rodovia do Contorno e os brejos/mangues do Complexo do Lameirão e do Boulevard Lagoa. Este às margens da lagoa Jacuném, na carente e populosa região de Feu Rosa.

Depois de um breve ‘ boom’, notou-se que poucos empreendimentos voltados para esse público conseguiram ocupação plena. Muitos estagnaram e já começam a sofrer desvalorização.  Outros, como o Alphaville – modelo de sucesso em vários estados – seguem engatinhando.

Esperava-se que uma maior presença da classe média na Serra ajudasse a promover a cidade cultural e politicamente. Que virasse a chave do velho populismo, prática arraigada na política local desde a explosão populacional do final da década de 1970. Que transformasse a Serra em protagonista na política capixaba, tal como ela é na economia. Até agora não deu, mas há quem vislumbre que a aspiração a esse protagonismo político possa ter um capitulo novo nas eleições do ano que vem. 

Tem crescimento que nos faz pior

A Serra continua como locomotiva econômica do ES e poderá manter essa posição por anos. Mas é nítido que o baque da crise brasileira e capixaba tem repercutido de forma mais intensa na cidade. Até mesmo as carentes Viana e Cariacica tem conseguido ser mais atrativas para novos empreendimentos que a Serra.

Essa dificuldade está clara quando se nota o mercado imobiliário. Para a Serra só estão previstos empreendimentos de baixo padrão. O presidente Michel Temer anunciou pacotão de mais dinheiro para o Minha Casa Minha Vida e as construtoras já se arvoraram em projetos de condomínios com centenas de apartamentos ocupando terrenos diminutos em bairros menos valorizados da cidade.

O verniz do crescimento econômico e melhores condições de vida a população de baixa renda que se vende com esses projetos escondem uma cilada. As construtoras que levam dinheiro público e depois deixam a cidade. Aos mutuários, fica o sofrimento de um pagamento que pode ser inviabilizado pelo desemprego ou baixa remuneração.

À cidade, muita aglomeração com reflexos negativos na já deficiente infraestrutura. À prefeitura, a pressão por ofertar mais vagas em creches, escolas, postos de saúde. Quando não, mais cestas básicas e outros benefícios sociais diretos. Isso num cenário de arrecadação em franco declínio.

É a prefeitura responsável pela gestão do espaço urbano. Cabe a ela ter visão de conjunto e disciplinar a ocupação do solo. Ela pode, se quiser, impedir a proliferação de condomínios que vão trazer mais ônus do que bônus. Se não o fizer, a cidade corre risco de permanecer sem vida cultural, sem identidade, sem teatros, estádios, com a vida noturna cerceada pela violência.  E seguirá ouvindo os moradores dos outros lugares do ES dizendo: vai pra Serra? Boa sorte!    

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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