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Costumes e casos de assombração na Quaresma

Anália Santana. Durante a infância em Calogi ela garante ter visto peraltices do Saci Pererê na Quaresma

Por Clarice Poltronieri

Após o carnaval, chega a Quaresma, período cristão de quarenta dias onde se faz reflexão, oração, caridade e penitência, que vai da Quarta-feira de Cinzas até a Semana Santa. Neste período, apesar das transformações sociais, algumas tradições ainda são mantidas, como o jejum de carnes e a intensificação das orações.

E é nesta época também que os antigos acreditavam que assombrações e seres malignos ficavam à solta, prontos para tentar o homem. “Nesse período, todos acreditavam que o bicho ficava solto. Minha avó contou que saiu numa noite de Quaresma e quando voltava para casa viu um lobisomem. Assustada, jogou um lenço para distraí-lo e correu para casa. Nessa noite, ela acordou com o ronco do meu avô e viu que seu lenço estava na boca dele”, conta Pedro Barbosa, morador de Nova Almeida, de 71 anos.

Anália Raimundo Santana, moradora de Jacaraípe de 98 anos, viveu na região de Calogi na infância numa fazenda onde alguns anos antes ainda havia escravidão. “A gente sempre via umas coisas estranhas na Quaresma. Um dia, eu era criança ainda, fomos cuidar da plantação e minha irmã viu um tamanduá enorme em um cupinzeiro. Quando ela bateu nele com a foice, ele sumiu. À noite vimos uma boiada entrar nas plantações e comer tudo, mas no dia seguinte não tinha nenhum rastro deles. Era o saci-pererê que aprontava nessa época”, relata

Anália, que era da Umbanda, conta que faziam algumas restrições alimentares, como os católicos. “A gente não comia carne e botava o peixe para secar para comer na Semana Santa”, conclui.

Maria de Lurdes Souza, de 95 anos, cresceu em Viana e também mantém tradições no período da Quaresma. “Faço jejum de carne vermelha na Quarta de Cinzas, nas sextas-feiras da Quaresma e na Semana Santa. Este ano recebemos um itinerário quaresmal, onde temos um versículo para ler e refletir uma vez por dia até a Páscoa. Quando criança, ouvia histórias de lobisomens e outras assombrações, mas nunca acreditei nisso”, conta.

Cecília Pagung, de 81 anos, descendente de pomeranos, vive em Domingos Martins. Dona Cila, como é conhecida, é de orientação luterana e ensina que a Quaresma é um tempo especial para refletir o sacrifício de Jesus “Nesta época, não devemos dançar forró nem frequentar festas com bebidas alcoólicas e controlar mais a vontade de namorar. Se você fizer isso, evita ver coisas tipo assombração”, afirma.

Análise

O sociolólogo Odmar Péricles afirma que apesar das mudanças sociais algumas tradições  persistem. “Mesmo com a diversidade religiosa, o Brasil é um país predominantemente cristão e guarda tradições religiosas. Isso não é bom e nem ruim para a sociedade, mas necessário, pois as tradições, ao lado da vanguarda, ajudam a manter o equilíbrio. O costume mais arraigado desse é a abstinência da carne e tem sido guardado apenas pelos mais velhos. Isso mostra que estamos em uma sociedade que está em permanente mutação, mas que ainda mantém alguns costumes”, analisa.

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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