Meio Ambiente

Comunidade cobra desassoreamento e despoluição de lagoa da Serra vizinha a Vale

Moradores às margens da lagoa tomada por esgoto e mato. Ao fundo, o muro da Vale e o local onde a mineradora teria prometido desassorear. Foto: Bruno Lyra 08 – 06 – 22

Localizada entre o bairro Hélio Ferraz e a Vale, a lagoa Pau Brasil está sufocada por esgoto, lixo e proliferação descontrolada de vegetação. Quadro que, em tempos de chuvas intensas, gera alagamentos nas humildes residências construídas da margem direita da lagoa. Enchentes que, por mais de uma vez, contaram também com óleo de vazamento da oficina de locomotivas da Vale.

Situações que fazem a comunidade clamar por desassoreamento e recuperação da lagoa. Tempo Novo esteve no local na última quarta –feira (08) e ouviu do presidente da Associação de Moradores de Carapina Conjunto Carapina I – bairro vizinho a Hélio Ferraz – Leandro Ferraço, que a Vale teria conseguido autorização ambiental para desassorear parte da lagoa.

“Temos a expectativa de que a Vale cumpra a promessa de realizar a dragagem da parte sul da lagoa, o que vai facilitar a drenagem de água, de modo que a lagoa não venha a encher novamente e nem entre nas casa dos moradores”, afirmou Leandro.

Com o líder comunitário, a reportagem caminhou até o ponto onde se forma a lagoa. E lá viu esgoto sem tratamento vindo da rede pluvial, vindo dos bairros Rosário de Fátima e Eurico Sales. Também notou que o ponto viciado de lixo e entulho próximo à Rodovia Norte x Sul, segue recebendo resíduos. Tudo às margens da lagoa. Veja o vídeo:

 

Flagrante

A reportagem ainda flagrou vazamento na rede de esgoto da Cesan/Ambiental Serra, o que fazia o líquido não tratado fosse direto para a lagoa e agravasse a poluição. Por fim, foi possível observar que, apesar de toda sujeira, proximidade com bairros e vizinhança com a área industrial da Vale no Complexo de Tubarão, ainda há nascentes limpas que alimentam a lagoa Pau Brasil. Veja o vídeo abaixo:

 

Quando óleo na água piora efeito das enchentes

Nataline dos Santos é uma das que moram às margens da lagoa. Por conta das enchentes ela já teve que morar em abrigo. A moradora que inclusive houve alagamentos misturados com vazamento de óleo da oficina de locomotiva da Vale – cujos tanques de tratamentos são não suportam a água de temporais mais intensos, extravasando. Foi o ocorreu na superchuva que atingiu a Serra em 30 de outubro de 2014, fato inclusive testemunhado por Tempo Novo na ocasião.

Funcionários da Vale tentam remover o óleo da Vale que extravasou para a lagoa e atingiu as casas ribeirinhas na superchuva. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra/ 31 – 10 – 14

“Já tive que sair de casa muitas vezes e ficar em abrigo da Prefeitura. Uma vez fiquei mais de 15 dias  no CMEI Bem Me Quer. Aqui, enchente é constante. Já perdi móveis, tudo. De 2010 pra cá também já teve vazamento de óleo da Vale duas vezes, que misturou com a enchente. Ganhamos da Vale depois uma geladeira, uma cesta básica e um kit limpeza. Nada mais”, conta Nataline.

Sônia Maria também reside às margens da lagoa. Ela também sofreu com a enchente de 2014 e  disse que já teve de deixar a casa mais de uma vez por determinação da Defesa Civil. Ela demonstrou esperança de que a dragagem sinalizada pela Vale aos líderes comunitários possa impedir alagamentos. Mas defendeu que seja feita uma galeria no local. Solução que seria mais complexa, uma vez que apesar de poluída a lagoa é Área de Preservação Permanente (APP). No entorno há inclusive remanescentes de área verde. E mesmo com toda sujeira, há peixes, jacarés, cobras, pássaros de várias espécies, gambás e macacos, entre outros animais silvestres na Pau Brasil e suas margens.

Vice presidente da Associação de Moradores de Hélio Ferraz, Fabiano Batista Pinto, disse que além da limpeza prometida pela Vale no trecho da lagoa que fica dentro da propriedade de empresa, também possa ser conseguido autorização dos órgãos ambientais para o que trabalho de desassoreamento seja aplicado à toda a lagoa. “Para que não venha a acontecer mais em tempos de chuva inundação com transtornos aos moradores, com perdas materiais e desalojamento”, pontua.

Fabiano também cobra mais ação da Cesan e órgãos competentes na melhoria do esgotamento. Tanto na manutenção da rede e da elevatória existente no local, quando na ligação de imóveis que ainda seguem lançando na rede pluvial, o que piora a contaminação da lagoa.

Contaminação da praia de Camburi

Da lagoa Pau Brasil desce o córrego Camburi. Este, depois de atravessar e drenar áreas no interior da planta industrial da Vale, flui para a ponta norte da praia de Camburi, em Vitória. No ponto em que deságua no Atlântico, a balneabilidade do mar é imprópria por conta da poluição trazida pelo córrego.

Foz do córrego que desce da lagoa Pau Brasil até a praia de Camburi, em Vitória. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

Na foz do córrego Camburi, também é possível ver camadas de minério de ferro na areia marinha. Passivo que a Vale produziu ao longo das décadas operando na Ponta de Tubarão, principalmente nos anos iniciais de operação na região, quando os controles ambientais eram ainda mais precários que os atuais.

Prefeitura promete fiscalizar vazamento e diz que maioria das casas é ligada à rede

E nota, a Prefeitura da Serra informou que irá mandar equipe fiscalizar o vazamento da rede da Cesan/Ambiental Serra flagrado pela reportagem. Afirmou também que a maior parte das casas do bairro Hélio Ferraz (91%) está ligada à rede. Ressaltou, contudo, que há uma parcela de casas sem rede disponível.

Já os imóveis que possuem rede disponível, mas que ainda não se ligaram, os donos estão sendo notificados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). O órgão segue fiscalizando o local, ressalta a assessoria.

A Prefeitura informou ainda ser responsabilidade da Ambiental Serra, que gere o esgoto da cidade em Parceria Público Privada (PPP) com a Cesan desde 2015, a responsabilidade pela manutenção das redes.

Sobre o ponto viciado de entulho às margens da lagoa, a Secretaria Municipal de Serviços disse que a população deve pedir a limpeza via o aplicativo Colab Serra, que pode ser baixada de graça. Há ainda um número de WhatsApp (27) 99976-2595 onde o morador pode, anonimamente, mandar fotos e vídeos para denunciar os sujões.

O que diz a Vale

A reportagem pediu, via assessoria de imprensa, mais detalhes à Vale sobre o desassoreamento lagoa, uma vez que a empresa possui passivos na mesma e teria prometido aos moradores o serviço.

Por nota, a Vale disse que vai realizar a dragagem da Lagoa Pau Brasil na área da Unidade Tubarão. “O projeto prevê a dragagem, limpeza e desassoreamento dessa parte da lagoa. O trabalho tem início previsto para este mês e deve ser concluído em cerca de cinco meses”, diz o texto da nota.

Já sobre o extravasamento, a Vale confirmou o problema e disse que “vem tomando todas as medidas para evitar que as chuvas causem eventuais extravasamentos de resíduos na área da lagoa, bem como conta com estrutura para conter e recolher o material em caso de ocorrência”.

Redação Jornal Tempo Novo

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