Ato em frente à casa da mãe do governador não é protesto, é balburdia irresponsável

Com o escalonamento da pandemia no Espírito Santo, o governo do estado está tomando medidas de restrição na tentativa de impedir um macabro colapso de saúde, assim como já ocorreu em outros estados da federação. A Serra que saiu do risco baixo, para a classificação de risco alta em apenas duas semanas, está entre as cidades com agravamento dos números de contaminação e mortes.

Restringir a circulação de pessoas não é medida que nenhum governante quer tomar, até pelo fato disso impactar diretamente as finanças do poder público, do qual eles são os tutores no momento. Mas uma parcela expressiva da população, insuflado especialmente pelo presidente da república, está culpabilizando os governadores que tomam tais medidas, politizando uma situação sanitária que por si só já é pra lá de trágica.

Bolsonaro vive da polarização, ele mantém a corda esticada a todo o momento para manter seus apaixonados seguidores arregimentados. Aqui no ES, o governador Renato Casagrande tem sofrido críticas duras de grupos e movimentos que apoiam as ideias negacionistas de Bolsonaro. E nesse final de semana chegou ao cúmulo de irem até a frente da casa de dona Anna Venturim Casagrande, de 88 anos, mãe do governador.

Não se pode usar a liberdade de expressão que a democracia nos confere para afrontar a própria democracia. É justo que se façam questionamentos, ainda mais em tempos de pandemia, do qual tudo é novo e mais sensível. É justa a luta daqueles que são diretamente impactados pelas regras de restrição, mas que se faça no campo das ideias, e sem pessoalizar, ou se deixarem ser instrumentalizados nas mãos de quem só quer promover as mais baixas politicagens.

Ir até a casa de uma senhora de 88 anos, com trios elétricos, promovendo aglomeração ao som de cornetas e apitos, com objetivo de intimidar o filho, é mais do que desrespeito. É um ato tolo e irresponsável. Como se o governador não soubesse a nuvem sombria que se avizinha ao ES, caso cruzemos os braços.

Parte da população ainda não se ligou que estamos no auge da pandemia, e normalizou as notícias diárias de mortes no Brasil. E isso é perigoso. Se os movimentos arregimentados estivessem preocupados com a vida, estariam, por exemplo, lutando por melhorias no transporte coletivo, que não são bons e não são aceitáveis durante um momento pandêmico quanto agora. E não intimidando uma senhora octogenária para pressionar um governador tomar medidas levianas.

Precisamos de vacinas para todos, de um plano nacional de vacinação efetivo; do retorno do auxílio emergencial para os mais vulneráveis e desempregados; precisamos de testagem em massa; e um plano de retomada da economia pós-pandemia. Mas antes de tudo precisamos de consciência e empatia. Afinal, todos os dias 2.000 famílias choraram e choram a morte de seus consanguíneos.