Vilson Vieira Jr.
Anos se passam e a história parece se repetir. Mas, infelizmente, não tem nada de reprise. São novos capítulos do drama do assoreamento por que passa o rio Reis Magos, que banha os municípios de Serra e Fundão. O problema, que parece crônico, aflige a comunidade pesqueira de Nova Almeida, que depende do manancial para viver e sustentar suas famílias.
Pescadores e moradores do balneário denunciam que enormes bancos de areia estão se formando na foz do rio, que passa sob a ponte Flodoaldo Borges Miguel (a Ponte Nova), a via estadual que liga Nova Almeida a Praia Grande. A lista de problemas é vasta e inclui desde acidentes a danos materiais.
“Meu filho já capotou com o barco na ‘boca’ do rio por causa do assoreamento, no final do ano passado. Graças a Deus, ele saiu ileso; teve prejuízos com a embarcação, mas conseguiu recuperá-lo. Infelizmente, somos esquecidos pelas autoridades aqui”, desabafa o pescador Joarez Messias de Jesus.
O mergulhador e pescador há 20 anos, Fernando Rocha de Lima, contou que o problema do assoreamento piorou muito, o que o obrigou a ter gastos. “Barcos de madeira só saem ou entram no rio com a maré cheia. Por isso, comprei uma lanchinha de alumínio de 5 metros e não tenho mais esse problema”.
Ele relata, ainda, os perigos que os pescadores enfrentam em dias de maré baixa, em que o problema é mais visível. “Quando o pescador chega do mar e a maré está seca, ele tem que esperar e ancorar em frente à ‘boca’ do rio até a maré encher. E ainda tem o risco, porque quando tem onda com a maré seca, é muito perigoso. Ao lado da ponte Nova, inclusive, tem um barco na areia que afundou porque quebrou a tábua e não conseguiram recuperar. Tiraram só o motor”, disse Fernando.
Também pescador em Nova Almeida, Daniel da Silva Santos alerta para o fato de que as embarcações não conseguem mais navegar no local sem que ocorra alguma avaria, e explica o porquê. “Hoje, tem um pequeno canal mais fundo com um obstáculo bastante perigoso, que são uns ferros existentes em baixo da ponte. Outro problema é a entrada e saída dos barcos. Eles só conseguem com a maré cheia”, explica. Daniel, assim como toda a comunidade pesqueira, alega que não aguenta mais ouvir promessas. “Elas são as mesmas de dois em dois anos. Dizem que vão pelo menos tentar fazer algo para solucionar o problema, mas até hoje nada”, lamenta.
O morador de Nova Almeida Leonardo Torres, se preocupa com o futuro do rio. “Além dos prejuízos dos pescadores tem ainda a situação ambiental. Ninguém olha pelo rio e nem cuida dessa parte. Temo pelo futuro do manancial”.
“Tudo o que tenho devo a Deus e ao mar”
O assoreamento do rio Reis Magos também afeta famílias inteiras. Pescador “desde que se entende por gente”, Joarez Messias de Jesus é exemplo claro da forte ligação que muitos moradores de Nova Almeida e Praia Grande ainda mantêm com o mar. Ao falar dos obstáculos que enfrenta há anos em razão do processo de assoreamento do rio Reis Magos, ele revela que toda a sua família vive da pesca. “Agradeço a Deus e ao mar por tudo o que sou e tudo o que tenho. Eu e minha família somos todos ligados ao mar. Até minha esposa ajuda no meu trabalho”, relata, com orgulho.
Prefeituras alegam buscar soluções
Em relação ao assoreamento na foz do Reis Magos, a prefeitura da Serra, por meio da assessoria de imprensa, disse que “está realizando o estudo morfodinâmico do litoral” a fim de elaborar um diagnóstico da área atingida e tomar as medidas necessárias. Informou, ainda, que a Secretaria de Meio Ambiente faz constantemente ações fiscais de controle de ocupação irregular e preservação das margens do rio, e ressalta: “É importante destacar que o rio percorre outros municípios e o controle dessas questões precisa envolver todas as esferas de governo.
A respeito disso, o Tempo Novo entrou em contato com a prefeitura de Fundão. Por meio de nota, a Subsecretaria de Meio Ambiente informou que, no dia 11 de fevereiro deste ano, foram emitidas duas anuências (Nº 01/19 Processo 7366/18 e Nº 02/19 Processo 0160/19) para a extração de areia no local onde ocorre o assoreamento. Segundo o órgão, isso vai favorecer o deslocamento dos barcos e que a extração “deverá acontecer assim que os responsáveis pela atividade […] obtiverem a Licença Ambiental dos órgãos competentes”.
Já o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) indicou a reportagem que entrasse em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Serra, pois a competência é da municipalidade.