A tentativa de censura do Governo Federal à charge de Aroeira, que ironizou o incentivo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à invasão de hospitais, ganhou reação no Espírito Santo. E ela veio de um artista que vive na Serra, em Novo Horizonte.
Mindu Zinek reproduziu a ideia base de Aroeira: uma cruz vermelha pichada por Bolsonaro com tinta preta. Ação que produziu uma suástica, símbolo que acabou adotado pelo nazismo. Porém, Mindu fez uma releitura local da polêmica charge e acrescentou a ela o deputado estadual Capitão Assumção (Patriotas). Veja:
O político capixaba está na reserva da PM desde 2009, defende as ideias de Bolsonaro e se envolveu em polêmicas nos últimos dias. Uma delas ao incentivar que outros cinco colegas deputados entrassem no Hospital Dório Silva na última sexta-feira (12) e filmassem as instalações, pacientes e profissionais da unidade. Assumção também foi ao Dório Silva na ocasião, mas ficou no estacionamento porque apresentava sintomas da covid-19. Ele fez exame esta semana, mas ainda não divulgou resultado.
A outra controvérsia envolvendo Assumção aconteceu ontem (16) durante sessão virtual da Assembleia Legislativa, quando ostentou a bandeira ucraniana com símbolo apropriado por grupos de extrema direita e de tendências neonazistas.
“Não me considero chargista, mas quando vi o movimento #somostodosaroeira, pensei: quero somar nisso aí. Então reproduzi a cruz vermelha com as linhas de tinta preta compondo a suástica. Coloquei o Bolsonaro e incluí o Capitão Assunção fazendo a pintura. O deputado participou da história do Dório Silva e depois apareceu com a bandeira usada por extremistas de direita na Ucrânia” disse Mindu, destacando que faz caricaturas há anos e que a produção de charges começou recentemente, após participar de uma live, já durante a pandemia, com o veterano chargista carioca Latuff.
Além das releituras feitas por artistas de várias partes do país, a tentativa de censura à charge de Aroeira gerou críticas por parte da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Deputados no Dório Silva inspiraram outro trabalho
Porém, antes de lançar a charge da suástica contexto do movimento pró Aroeira, Mindu já tinha feito outra inspirada também no episódio de sexta-feira (12) no Dório Silva.
Nela, além de Assunção, são representados os deputados Lorenzo Pasolini (Republicanos) e Vandinho Leite (PSDB). Esses dois, junto com Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL) e Carlos Von (Avante), entraram no hospital. Veja a charge.
Por sua vez, os deputados defenderam que a entrada foi para fiscalizar as condições do hospital durante a pandemia. Argumentaram que é prerrogativa do mandato fiscalizar o executivo. Disseram ainda que a vistoria havia sido agendada uma semana antes da fala de Bolsonaro na noite de quinta-feira (11). Já o Governo do ES, gestor do Dório Silva, considera que houve invasão e fez representação criminal contra os parlamentares.
“Quando fiquei sabendo da invasão ao hospital eu já sabia que o Bolsonaro tinha feito esse apelo. Então desenhei essa charge, que foi publicada pela Mídia Ninja no fim de semana”, explica Mindu.
O artista também atua como ativista junto à Pastoral dos Moradores de Rua, que é ligada à Igreja Católica. E nas últimas semanas, começou a elaborar charges para os boletins da Pastoral. Um delas ironizou a pressão de setores do comércio sobre o governador Renato Casagrande (PSB). Veja.
Críticas e apoio
Por conta da charge da suástica, que Mindu define como continuação ao trabalho de Aroeira, ele recebeu algumas críticas – incluindo de internautas dizendo que ele também deveria ser processado – mas também apoio.
Mindu Zinek é de São Paulo, mas ‘adotou’ a Serra há cinco anos. Seus trabalhos estão expostos na conta no Instagram @carica_ture.