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A morte anunciada da Juara

Por Bruno Lyra

A mortandade de peixes que atingiu a lagoa Juara nesta semana, a 2ª em menos de quatro meses, é uma tragédia anunciada há anos. O crescimento acelerado das regiões de Jacaraípe e Serra-sede, onde estão os córregos que alimentam a outrora bela e rica Juara, é uma das razões, já que em ambas a abrangência e eficiência do sistema de coleta e tratamento de esgoto não dá conta. Fica a torcida para que a tão celebrada Parceria Público Privada (PPP) que redundou na criação do Consórcio Serra Ambiental, consiga fazer melhor do que a Cesan fez até agora.

Ao município, cabe estancar a formação de bairros clandestinos, ocupações de área de preservação, coisa que não conseguiu fazer bem até agora. Pelo contrário. Cercas, muros e residências se aproximam cada vez mais da lagoa, sobretudo no ponto mais próximo do canal do Rio Jacaraípe. Ali há queimadas e desmatamentos. Basta às autoridades irem lá para ver e cumprirem o papel que lhes cabe. São (bem) pagos pela sociedade para isso.

No caso específico da mortandade desta semana, há várias situações a considerar. O alargamento e dragagem do canal do rio Jacaraípe trouxe mais água salgada para a lagoa, que já havia sido impactada com a construção do píer da praça Encontro das Águas, ainda nos anos 1980  e depois a alteração do mesmo em 2009. Isso tudo já tinha mexido com a dinâmica natural da troca de água doce e salgada envolvendo o rio Jacaraípe, a praia do Barrote, a lagoa Juara e também a Jacuném, que é interligada aos demais.

Mais recentemente, a prefeitura dragou o canal do córrego das Laranjeiras. Assim como a dragagem do rio Jacaraípe, uma obra importante para reduzir os trágicos efeitos das enchentes na região, que atingem principalmente a população mais carente. O problema foi o efeito colateral. O córrego é imundo de esgoto e antes da dragagem havia muita taboa e outros tipos de vegetais aquáticos que formavam um filtro natural e reduziam a sujeira que chegava à lagoa.

Agora, o esgoto cai direto ao lado da Praça da Tilápia, onde as águas da Juara passaram a ficar escuras e fétidas. Também deve se considerar a seca, a pior já registrada. Nesse quadro de esgoto e sal, a Juara quase não tem recebido água doce e limpa.  A própria produção de tilápias em tanques rede, não obstante seus benefícios econômicos e sociais, também exige do meio ambiente da lagoa. Aliás, essa é a atividade mais atingida com essa situação e corre sério risco de ser extinta, junto com os restaurantes que surgiram na região, caso a degradação da lagoa não comece a ser revertida.

Outra situação que precisa ser investigada é o suposto uso de venenos em eucaliptais que cercam a lagoa. Pescadores dizem que quando há a aplicação e chove na sequência, costuma haver mortandade de peixes. Cabe ao poder público investigar todas as situações e hipóteses. E é obrigação a transparência na divulgação dos resultados, sejam quais eles forem.

Em julho uma área de mata Atlântica com 8,3 hectares foi desmatada próximo à nascentes da Juara, entre Jacaraípe e Putiri. Com autorização do Governo do ES. Um contrassenso que não pode mais acontecer, assim como dragagens mal planejadas, prevaricações em relação à ocupação de áreas de preservação e outros crimes ambientais. À sociedade cabe fazer sua parte e cobrar dos políticos e das outras autoridades pagas com dinheiro público para garantir nosso direito constitucional de ter um ambiente salubre e que permita a prosperidade de todos.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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